Bombeiros espionam Facebook e e-mails para prender militares que criticaram a corporação (Rio de Janeiro)
Justiça
Militar quer saber como mensagens privadas foram parar com a Corregedoria do
Corpo de Bombeiros. Grupo de 20 enfermeiros passou quatro dias em detenção.
O Quartal Central do Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Rio de Janeiro, no centro da cidade (Michel Angelo/2008) |
Na última segunda-feira, um
grupo de 20 bombeiros militares do Rio de Janeiro foi surpreendido com ordens
de prisão. Todos são enfermeiros da corporação, encarregados, por exemplo, de
socorrer vítimas de acidentes nas estradas. O erro que motivou a punição: todos
debatiam, pelo Facebook e por e-mail, questões consideradas internas dos
quartéis. Os 20 passaram quatro dias detidos em vários batalhões e foram
libertados na quinta-feira, por força de uma liminar expedida pela Justiça
Militar, assinada pela juíza Ana Paula Monte Figueiredo Pena Barros, concedendo
habeas corpus ao grupo.
A decisão da juíza, em face
do pedido do advogado Carlos Azeredo, que representou um dos bombeiros, virou o
feitiço contra o feiticeiro. Para a magistrada, as provas apresentadas pela
Corregedoria do Corpo de Bombeiros para embasar as prisões foram colhidas de
forma ilegal, pois os e-mails, as páginas de Facebook e todas as mensagens
trocadas pelo grupo são privados, não passíveis de monitoração pela instituição
militar. Diz a juíza, em seu despacho: “O ilustríssimo corregedor interno da
corporação determina a instauração da sindicância para apurar conduta dos militares
envolvidos, visto que os mesmos postaram comentários inadequados em rede
social, bem como através de e-mail, tornando público comentários que concorrem
para o desprestígio da corporação’, tudo sem mencionar como foram obtidos tais
comentários e conteúdos de e-mails”.
A juíza ainda faz uma
observação: “Ressalte-se, o e-mail em tela não pertence à corporação, não se
trata de e-mail funcional, mas sim privado, pertencente ao Hotmail. Sequer no
relatório da Sindicâncias encontra-se demonstrado como foram acessados o grupo
fechado no Facebook e os e-mails (...)”.
A página em questão,
denominada GSE CBMERJ - sigla de Grupo de Salvamento e Emergência - Corpo de
Bombeiros Militar do Estado do Rio de Janeiro - foi criada com alguns cuidados.
Entre eles o de deixar claro que o objetivo da iniciativa não era o de comandar
greves ou ‘amotinar’ militares – um zelo para evitar que a iniciativa fosse
confundida com o movimento grevista que resultou na prisão e na expulsão de
bombeiros do Rio e da Bahia, em 2011. Uma cópia desses e-mails foi anexada ao
processo. Na mensagem do dia 6 de setembro de 2012, a cabo Viviane Ferreira
Carvalho, escrevendo para os colegas, diz o seguinte: “Não estou aqui propondo
uma revolução, uma manifestação nem muito menos uma greve, odeio ser militar,
mas somos, e tudo podemos propor e resolver com o regulamento, com leis e com
normas que estão à disposição de todos”.
A bola, agora, está com a
corregedoria. A juíza afirma, ainda, que o corregedor “deverá explicitar,
especificamente, o modo como foram acessados o grupo fechado da rede social
Facebook e a conta de e-mail pertencente a Viviane Ferreira Carvalho”.
Em resposta à reportagem do
site de VEJA, o Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Rio de Janeiro
respondeu que as prisões foram decididas, pois "surgiram indícios do
cometimento de condutas irregulares por parte dos militares. Diante dos
indícios, foi instaurado procedimento apuratório em que ficou configurado o
cometimento das seguintes transgressões disciplinares: proferir ofensas contra
o comandante de suas unidades através de grupo de rede social virtual; e
disparar correspondência eletrônica incitando quebra na cadeia de comando e
desrespeito do comando de suas unidades.
A corporação não explica
como a corregedoria teve acesso às mensagens pessoais e ao grupo fechado do
Facebook. "Este esclarecimento será feito à Auditoria de Justiça Militar
do Rio de Janeiro", limita-se a informar a assessoria dos bombeiros.
Fonte:
Leslie Leitão, do Rio de Janeiro
http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/bombeiros-espionam-facebook-e-e-mails-para-prender-militares-que-criticaram-a-corporacao
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