Francisco
Dutra
francisco.dutra@jornaldebrasilia.com.br
Buriti e Ministério Público
até divergem na interpretação, mas dados recém-divulgados sobre o quadro do
funcionalismo do Governo do Distrito Federal mostram que a proporção de
comissionados em cargos de confiança está ainda bem acima do previsto na Lei Orgânica.
Os números constam da edição do Diário Oficial do DF do último dia
21. Entre 91 órgãos públicos, mais da metade apresenta percentuais de
pessoas empregadas em cargos de confiança, sem vínculo com o serviço público
nomeados livremente.
Segundo a legislação local,
os órgãos públicos devem reservar 50% de seus cargos comissionados para
servidores concursados. Este cálculo é interpretado de duas maneiras. O
Ministério Público defende a análise dos números em relação aos quadros de cada
secretaria, administração regional ou demais órgãos públicos. O Palácio do
Buriti interpreta que o cálculo deve ser feito em função do número total de
servidores.
Conforme a leitura do
Ministério Público, dos 91 órgãos do Governo do DF, 66 deles estão acima da
fronteira de 50%. O levantamento confirma a preocupante situação da gestão das
administrações regionais. Pois todas estão em desacordo com a legislação. A
partir do mapeamento, é possível constatar que os comissionados estão acima dos
limites legais nas secretarias de Desenvolvimento Econômico, Obras, Esporte,
Trabalho, Turismo, Assuntos Estratégicos, Casa Civil, Regularização de
Condomínios e Micro e Pequena Empresa.
Interpretação
De acordo com o ponto de
vista do governo, a lei está sendo cumprida, pois o cálculo seria feito a
partir do número total de servidores.
Considerando os mais de 100
mil postos de trabalho públicos, 46% são de comissionados sem vínculo. No
entanto, o governo não nega que seja um problema o fato de haver secretarias,
administrações regionais e demais órgãos que tenham em seus quadro mais da
metade de comissionados sem pertencer ao quadro de servidores públicos.
Ponto
de vista
O atual modelo de
distribuição dos cargos comissionados é feito para garantir fôlego para as
futuras eleições, explica Ligia Pavan Baptista, professora de Ética na
Administração Pública da Universidade de Brasília (UnB). “Especialistas
consideram que seria necessário que se fizesse pelo menos uma seleção, uma
prova ou mesmo um curso para estas pessoas”, sugeriu. Para a professora, seria
interessante que pesquisas sobre o tema fossem feitas por universidades e ONGs
para aprofundar as discussões. Ligia lembra que, em outros países, os cargos de
indicação são carreiras de Estado e existem para assegurar a manutenção de
projetos exitosos, mesmo com a troca de governos.
Secretário
reconhece pressão política
“Reduzimos o número de
comissionados de 21 mil para 16 mil em dois anos”, argumentou o secretário de
Administração Pública, Wilmar Lacerda. A meta governista para este ano é
enxugar o quadro ainda mais, para atingir o patamar de 14 mil cargos de
indicação. Lacerda defende o cálculo palaciano para a proporção de
comissionados sem vínculo, mas reconhece que é preciso reduzir o número de
comissionados sem vínculo, especialmente nas administrações regionais.
Wilmar diz que o governo vem
trabalhando para moralizar a situação dos comissionados, para que o quadro seja
composto por pessoas com qualificação técnica. Mas, para tanto, é preciso
equacionar o problema das pressões políticas sobre os postos de confiança. “A
questão política pesa, no governo como um todo. Nosso governo é baseado em uma
ampla aliança. E isso traz indicações para postos de deputados e forças
políticas que querem estar presentes no governo”, comentou.
O secretário argumenta que o
cálculo adotado pelo GDF, tomando como referência toda a máquina pública, é o
mesmo definido em outros governos pelo Brasil e, se a Justiça considerar que
está errado, o governo se adequará.
Briga
foi parar no Tribunal de Justiça
A divergência sobre a forma
do cálculo de comissionados entre GDF e Ministério Público é objeto de uma Ação
Direta de Inconstitucionalidade (ADI) em julgamento no Tribunal de Justiça do
DF. Após observar o último mapeamento dos comissionados, o órgão de
fiscalização pedirá mais celeridade do Tribunal.
Segundo o promotor de
Justiça e assessor de Controle de Constitucionalidade, Antonio Suxberger, a
proposta de cálculo do GDF induz a graves distorções na leitura do quadro de
comissionados. “Já diziam os filósofos: os números alguma coisa nos dizem. Há
um importante significado no fato de todas as administrações regionais terem
mais comissionados do que servidores. Os números de comissionados sem vínculos
em algumas delas são gritantes, como nos casos do Varjão e Itapoã”, ponderou.
Lei
não é aplicada
O promotor aponta que o
cálculo do GDF permite que existam órgãos públicos estratégicos praticamente
loteados por cargos de indicação, a exemplos das pastas de Regularização de
Condomínios e da Micro e Pequena Empresa. “O conceito de carreira de Estado é
colocado em xeque em situações como estas”, criticou. Para o promotor, a Lei
Orgânica do DF é mais moralizante do que a própria Constituição Federal, mas
não está sendo aplicada da forma correta pelo Poder Executivo.
A ADI é questionada pelo
GDF. Suxberger diz que o processo já estaria pronto para
julgamento.
Fonte:
Da redação do clicabrasilia.com.br
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