Precisa-se de oposicionistas

Tenho 30 anos, sou filiado ao PSDB desde 1998. Já naquele ano aconteceram duas campanhas memoráveis e antagônicas (preste atenção no nome dos candidatos tucanos. Retornaremos a eles daqui a pouco). Eleger Fernando Henrique, depois de quatro anos de uma estabilidade desconhecida à época, foi fácil, primeiro turno com 53% dos votos. Em São Paulo a história foi outra: o governador Mário Covas, ao final do primeiro mandato, começou a campanha em quarto lugar nas pesquisas. Dois dias antes da eleição estava em terceiro, dois pontos atrás de Francisco Rossi. Maluf liderava. No segundo turno, Covas foi reeleito com 55% dos votos.

Logo no início do segundo mandato perdemos Sergio Motta e Franco Montoro. Nas eleições municipais de 2000, o então vice-governador Geraldo Alckmin ficou em terceiro lugar com 17% dos votos. Em 2001, Alckmin assumiu o governo de São Paulo após a morte de Covas.  ...

Voltemos aos nomes: Fernando Henrique, Covas, Alckmin (Serra já tinha sido candidato a prefeito em 88, sendo derrotado pela então petista Luiza Erundina). Veja os nomes de hoje: Fernando Henrique, Alckmin, Serra. Dos nomes de mais de 20 anos atrás, só não está quem já morreu.

Em 2002, na primeira eleição federal e estadual sem Covas, Montoro e Sérgio Motta, com FHC já não tão bem avaliado, nosso candidato virou candidato "dele mesmo". Serra teve 38% dos votos no segundo turno, derrota de todos nós. Alckmin se reelegeu em São Paulo com 58% dos votos, batendo José Genoino no segundo turno.

Fomos para a oposição ao governo federal. A economia crescia pouco, atingida pela crise mundial. Nas eleições municipais de 2004, Serra ganhou com 54% dos votos. A economia dava aos tucanos condições de ser oposição. Em 2005 explodiu o escândalo do Mensalão. A estratégia do PSDB, de omitir-se, de não confrontar a crise do adversário "em nome da República", até poderia ter dado certo. Mas a economia cresceu 5,7% em 2005 e 3,2% em 2006 e sufocou as possibilidades de êxito daquela estratégia. Perguntas: quem era o líder da oposição? Quais os nomes do PSDB que o público poderia identificar com a oposição ao Governo?

Chega 2006, Serra e Alckmin lutam pela indicação para disputar a presidência. Em um jantar no Massimo, um dos restaurantes mais luxuosos de São Paulo, com Fernando Henrique, Tasso Jereissati, Aécio Neves, Serra e a imprensa, fica definido que o candidato à presidência seria Alckmin. Serra sai candidato a governador e se elege no primeiro turno com 57% dos votos. Algum nome novo no jantar? Não: tanto Tasso quanto Aécio são fundadores do PSDB e amigos-inimigos de Alckmin, Serra e tucanos paulistas em geral. Aécio está disposto a apoiar o candidato indicado pelo partido, desde que seja ele. Não sendo ele, está disposto a lutar com fervor, durante a campanha, para manter os braços cruzados.

Alckmin perde a eleição presidencial no segundo turno com 39% dos votos. No segundo ciclo como oposição, a economia cresceu 3,2% em 2006, 4% em 2007, 6,1% em 2008 e 5,2% em 2009. A economia já não favorecia os oposicionistas e o eleitorado não ligou para o Mensalão.

Nas eleições municipais de 2008, Alckmin ficou em terceiro lugar. O esquema tucano se manteve no poder com Gilberto Kassab, um aliado que logo mudaria completamente de lado e está a pique de ganhar um Ministério de Dilma.

Em 2010, após perder duas eleições seguidas, Alckmin deixa o caminho livre para Serra se candidatar à presidência (atropelando Aécio, que também queria disputar, e levando-o a cruzar os braços mais uma vez). Alckmin ganha o Governo paulista no primeiro turno. Serra perde para Dilma no segundo turno - a segunda derrota em eleição presidencial.

Vem a eleição para prefeito de São Paulo - e quem é o candidato? Serra, de novo. É como se o PSDB só tivesse Serra e Alckmin para disputar qualquer eleição. Serra perdeu de novo, para uma novidade petista: o ex-ministro Fernando Haddad, em sua primeira experiência eleitoral.

As próximas eleições são as presidenciais, em 2014. Hoje, o ministro Joaquim Barbosa, que jamais manifestou qualquer interesse em ser candidato, que não é filiado a partido algum, que é conhecido do eleitor apenas por ter comandado o julgamento do Mensalão, aparece nas pesquisas de intenção de voto. O governador tucano de São Paulo não aparece nessas pesquisas. Eduardo Campos, governador de um Estado menor, Pernambuco, integrante de um partido muito menor que o PSDB, o PSB, aparece. O eterno candidato tucano, José Serra, não aparece.

E Aécio, que fez dois governos elogiados em Minas Gerais, que elegeu facilmente um tecnocrata, Alberto Anastasia, para seu sucessor, tem chance? Depende: Aécio manobra para conseguir o apoio de Eduardo Campos, para buscar o apoio de alguma dissidência, quem sabe, na base governista, para então definir seu caminho. Nas eleições da Câmara e do Senado, o PSDB votou com os candidatos do Governo - os altamente discutíveis Henrique Alves e Renan Calheiros - para garantir uns carguinhos na Mesa Diretora.

No Senado, o mais provável candidato tucano à Presidência, Aécio Neves, discursou. Justificou seu apoio à candidatura de Renan Calheiros, em nome da tradição de montar chapas lideradas pelo partido majoritário? Talvez tenha feito um discurso de oposição, dizendo que o Brasil merece respeito, que o Senado merece respeito, que o PSDB não poderia conformar-se em votar num candidato que, há cinco anos, teve de renunciar ao cargo para não ser cassado, diante de uma sucessão de escândalos?

Nada disso: Aécio Neves falou sobre a Petrobras. Não ficou sequer em cima do muro: preferiu fazer de conta que o muro nem existia.

O grande baluarte tucano, o Governo paulista, nas mãos do PSDB desde 1994, será alvo de chumbo grosso no ano que vem. Paulo Skaf, presidente da Fiesp, a Federação das Indústrias do Estado de S. Paulo, é candidato, e já tem o lendário Duda Mendonça a seu lado. Aloízio Mercadante (ou Alexandre Padilha, ou quem Lula mandar) terá o apoio do Governo Federal e do prefeito paulistano Fernando Haddad. Há Kassab, ainda, político extremamente hábil, capaz de compor um poderoso arco de alianças. Todos contra Alckmin - juntos ou separados, mas mesmo separados podendo unir-se no segundo turno para derrubar as muralhas do tucanato.

E Aécio, se acabar mesmo sendo candidato, precisará do apoio de Serra e Alckmin, a quem não se dedicou com grande fervor quando eram eles que necessitavam de seu prestígio.

Voltemos mais uma vez aos nomes. São os de sempre - os que sobreviveram ao tempo que se passou desde a fundação do PSDB. Só que um partido não vive eternamente da inércia, das vitórias de outras épocas. A militância foi esquecida. Franco Montoro, Sérgio Motta, Mário Covas deixaram espaços que até hoje não foram ocupados. O espaço para quem quiser fazer oposição continua vago.

Por Felipe Mayer - É engenheiro
Fonte: Brickmann & Associados - 14/02/2013

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