Panfleto
que será distribuído pela CEB Foto: Reprodução
A
Companhia Energética de Brasília (CEB) vai distribuir pelo menos 877 mil
panfletos informando o que a empresa conseguiu realizar na atual gestão. Seria
uma medida normal de informação, não fosse a aparência do folhetim. Diferente
das cores das faturas – laranja, azul e branco -, a CEB preferiu por usar as
cores vermelha e branca, que por coincidência são as mesmas usadas pelo PT, partido
de Agnelo Queiroz. Fora isso, a empresa destaca o 13, os dois últimos
dígitos do ano e é usado também nas campanhas majoritárias petistas.
Os
panfletos devem chegar às casas dos consumidores nesta semana. Segundo a
empresa, esta é a única ferramenta para comunicação da CEB com a população. A
publicação ressalta os investimentos e as medidas postas em prática para
estruturar a companhia. Mas as ações elogiadas entram em choque com a realidade
dos brasilienses.
Contradições
- Em um dos pontos citados no panfleto, por exemplo, a CEB ressalta a
redução na conta de luz. “Você tem todos os motivos para estar satisfeito com a
CEB. Desde o dia 24 de janeiro as contas de energia estão mais baratas 18,11% e
32% com determinação do Governo Federal e apoio da companhia”, diz no
informativo.
Entretanto,
esse desconto é na verdade a devolução de uma cobrança indevida que vinha
ocorrendo desde 2002. Em agosto do ano passado, o Tribunal de Contas da União
(TCU) apresentou pedido do ministro Valmir Campelo para que o valor cobrado a
mais retornasse aos consumidores. E só depois disso, é que o governo determinou
tal medida.
Mesmo
com a determinação, nem todos sentiram diferença. A empresária Avanilda Machado
Inácio trabalha no ramo de alimentos. Na expectativa de receber os descontos na
conta de luz, ela ainda comprou equipamentos novos e econômicos e mesmo assim,
a fatura veio com consumo maior e automaticamente com valor maior. “Eu desligo
e ligo os aparelhos sempre no mesmo horário. Eu me sinto afrontada. Diz que vai
diminuir, mas não vi desconto”, reclama.
Tempo
no escuro - Outra informação impressa no informativo é que a empresa
conseguiu reduzir o tempo sem energia nas casas. Dado contestado pela
empresária e moradora da Asa Norte, Alice Dutra. “Raramente [falta] onde eu
moro, mas quando falta, fica umas cinco horas sem luz. Ficamos sem por muito
tempo em pleno domingo que é o dia que ficamos mais em casa”, observa Alice.
Na
semana passada, o jornalista Luciano Lima ficou sem energia em casa o dia
inteiro. Em postagem em sua página nas redes sociais, ele diz que a luz acabou
a partir de “10h30 até às 21h12”, especifica. “Não poderia ter sido um dia
melhor”, ironiza Lima. “Participei de forma involuntária por 10 anos do
movimento “A Hora do Planeta”. Virou moda faltar luz no DF e, em breve, não
vamos nos incomodar mais”, conclui na mensagem.
De
acordo com um relatório da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), no ano
passado, o DF ficou sem energia por pelo menos 11 dias. Em todas as regiões
administrativas, foram 271,95 horas sem luz, média de 27 horas por mês.
Na
justiça – Segundo a presidente da Comissão de Direitos do Consumidor da
OAB-DF, Ildecer Amorim, a energia é um serviço caracterizado como essencial e
contínuo e por isso não pode faltar.
Segundo
Ildecer, os consumidores podem entrar com ação na justiça por danos morais,
além do material. Isso por que a falta de energia pode privar a pessoa de
determinadas situações de rotina. Um dos exemplos usados por ela é que quando
falta energia em determinado casa, o morador pode alegar que deixou de exercer
um direito seu de assistir televisão ou de tomar um banho frio, por exemplo.
“As
pessoas só entram na justiça quando queimam aparelhos eletrônicos ou
eletrodomésticos por desconhecerem a lei”, explica a representante da OAB-DF.
O
órgão, contudo, não pode entrar em ação quando o problema é individual. Somente
quando há dano coletivo é que a OAB pode agir. Neste caso, a multa é
encaminhada para o Fundo dos Direitos Difusos, que atua na defesa da população
de clientes.
Outro
lado - A reportagem entrou em contato com a Companhia Energética de
Brasília (CEB). A empresa garante que o panfleto não faz nenhuma indução
partidária e que o jornalista é que tinha esse intuito. “Ninguém é dono de
cor”, defendeu o chefe de comunicação da estatal, Mauro Pinheiro.
“Nem
o azul é do Roriz, nem o verde é do Arruda, nem o vermelho é do PT e nem o
amarelo é dos tucanos”, explica didaticamente o assessor. “Não tem nenhuma
conotação política”, completa Mauro.
No
ano passado, a CEB lançou o primeiro número da campanha referente aos meses de
outubro e novembro. Mas o formato nesta ocasião era com outras cores. A
intenção, segundo o representante da CEB, é mudar o visual dos informativos. O
assessor sustenta ainda que esta é única ferramenta que a empresa tem para
informar os consumidores.
Justiça
eleitoral – Em uma análise preliminar, o procurador regional do Ministério
Público Eleitoral, Renato Brill, não descartou a possibilidade de uma campanha
eleitoral antecipada. Mas disse que aprofundaria na questão. “O que traz um
pouco de incômodo seria apenas o número 3 do ano 2013, em vermelho. Mas ele
está sozinho em vermelho...”, disse sem cravar uma negativa na possível
promoção partidária petista.
Por Elton Santos
Da Redação
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