Peça-chave em mesas de negociações entre os
policiais civis e o Governo do Distrito Federal (GDF), o deputado distrital
Wellington Luiz (PPL) comemorou a criação de 3.029 cargos, mas fez ressalvas:
“é bom lembrar que esses cargos serão providos apenas em 2014”, preocupa-se.
No primeiro mandato e eleito com 10.333 votos, o
parlamentar começou sua atuação como base do governo Agnelo Queiroz, mas no
decorrer do mandato entrou em choque com o GDF, principalmente pelo descaso
como o governo tratou a criação da Secretaria de Condomínios, na qual foi o
primeiro titular. Saiu da pasta após pressão da categoria dos policiais civis.
Em entrevista ao jornal Guardião Notícias,
o distrital conta por que não quis assumir a corregedoria e julgar seu colega
de partido, Raad Massouh, envolvido em um caso de desvio de verba de emenda
parlamentar. “É um assunto espinhoso investigar um colega, um companheiro”,
comenta. Confira os principais trechos desta entrevista e o programa completo
por ser assistido no programa Bate-Pronto, no
www.guardiannoticias.com.br
Guardian Notícias - Em sua avaliação, os benefícios
conquistados pela área de segurança do DF (15,8% de reajuste e a criação de
3.029 cargos para a PCDF) foram suficientes?
Wellington Luiz - Na verdade não. Tivemos que fazer uma
ginástica danada para poder absorver estas propostas. A questão dos cargos é
uma demanda institucional. Os policiais acabam ganhando por que carga de trabalho
diminui. A verdade é que estamos com o mesmo efetivo desde 1993. Mas também é
bom lembrar que esses cargos serão providos apenas em 2014. Ou seja, já teremos
prejuízo com a Copa do Mundo. Não se faz um policial na academia, se faz na
rua, adquirindo experiência. Com esses cargos quem vai ganhar é o governo.
GN - Mas o reajuste salarial agradou a categoria?
Wellington - A questão dos 15,8% fica muito aquém. Até por
que quem está há quase seis anos sem aumento, deixou-se muito a desejar. Mas
temos que compreender. A gente tem que entender que isso era o máximo. Já não
dependia só do governo do Distrito Federal. Tem um cenário nacional e que
obviamente define as situações aqui no DF. Eu sou testemunha. O governador
tentou mandar percentuais maiores, mas foi barrado no governo federal.
GN - Ainda sobre as reivindicações dos policiais, o
reconhecimento de funções também entrou em pauta na discussão com o governo. O
que a categoria conseguiu de avanço nesse sentido?
Wellington - Conseguimos que o governo encaminhasse uma
proposta reconhecendo nossas atividades como de nível superior e a questão do
delegado como carreira jurídica. Isso acabou amenizando.
GN - Segundo o Ministério da Justiça, a Polícia
Civil de Brasília é a mais bem equipada do país e mais bem paga. Mesmo
assim, ainda temos problemas com a segurança no DF. O que está faltando para
melhorar este cenário?
Wellington - É um conjunto de ações e eu sou testemunho
dos esforços do secretário (de Segurança Pública) Sandro Avelar. Agora nós
temos nossas limitações. Como que se consegue o combate a criminalidade quando
você tem três, quatro policiais numa delegacia para cuidar da investigação
contra crime violento, contra tráfico de entorpecente, de plantão na delegacia.
Hoje se você for à delegacia e dizer: eu acabei de ser assaltado e estão
levando meu carro, o policial talvez não possa ir até lá para talvez fazer o
flagrante, por que senão tem que fechar a delegacia. Estamos falando da sexta
economia do mundo. Isso é uma vergonha. Mas existe um conjunto de ações. Tem
que se investir com seriedade na segurança pública.
GN - Falta dinheiro para fazer esse investimento na
segurança?
Wellington - Eu gostaria até de fazer uma observação em
relação ao orçamento. Nós temos o Fundo Constitucional que ultrapassa os R$ 10
bilhões. Então não se justifica se ter uma segurança caótica. Aí não tem outra
coisa, é falta de gestão. Mas volto a dizer: é um conjunto de ações do governo.
É necessário que repense a segurança como um todo. Não precisa de uma fórmula
mágica.
GN - Isso quer dizer que o orçamento para segurança
é ‘gordo’. Como o senhor tem feito para fiscalizar essas ações?
Wellington - A fiscalização é feito em cima desse Fundo
Constitucional. O GDF não coloca um centavo para a segurança pública. É
religioso: até o dia 5 de cada mês, a União repassa 1/10 do Fundo
Constitucional. Recentemente, às duras penas, aprovamos a convocação do gestor
do Fundo (Paulo Carvalho) para que ele prestasse contas, que inclusive disse
para a gente que dinheiro não é o maior problema que temos hoje.
GN - Quando há um crime na região do Entorno do DF,
fica uma indefinição para saber quem apura. Polícia do DF ou Goiás. Não seria
necessária uma força-tarefa dos dois governos para fazer a segurança desta
região?
Wellington - Essa é uma discussão que já foi feita com o
secretário Sandro Avelar e já está se buscando uma solução através de um
convênio. Na verdade, o Entorno sempre foi um problema. As delegacias tinham
condição de combater o crime. Com o passar do tempo, com o aumento da
população, das delegacias, mas com a manutenção dos policiais, as delegacias
ficaram sucateadas. Tem que se pensar numa forma emergencial para que se
resolva isso. Ou então vamos continuar vendo nossas crianças e mulheres
morrendo nas mãos de bandidos.
GN - O senhor chegou a dizer no início da
Secretaria de Condomínios que chutaria o “pau da barraca” caso o GDF não
estruturasse a pasta. Depois, saiu da secretaria por divergências com governo.
Como está a sua relação com o governo?
Wellington - Não se admite criar uma secretaria dessas
para enganar o povo. Eu tenho pautado minha vida política dessa forma. Ou eu
dou conta de fazer, ou eu tiro meu time de campo. Continuo mantendo uma relação
com a secretaria muito forte. Eu tirei a bunda da cadeira e fui direto ao
morador. Chutar o pau da barraca eu repito toda vez que houver necessidade.
GN - O senhor acha que houve falta de dialogo para
definir o presidente da Câmara Legislativa?
Wellington - A questão do diálogo é aquilo que eu mais
reclamo. Com relação ao nome de Wasny, é inquestionável. Eu aposto na gestão
dele. Tenho certeza que a gestão dele vai dar certo, por que ele é sério, é
empreendedor e faz funcionar. Agora, a forma como foi colocado é que alguns
deputados, inclusive eu, questionaram. Então acho que esta forma de empurrar
goela baixo não funciona.
GN - É possível que este debate que não houve para
a presidência, também não houve para a eleição das comissões da Casa?
Wellington - Obviamente que se estendeu para as comissões,
que faltou debate, diálogo. Eu tinha feito um compromisso de bloco. Eu não
criei a candidatura do Cristiano Araújo. Pelo contrário. Pediram para eu abrir
mão por que o compromisso era de que eu fosse o presidente da Comissão de
Constituição e Justiça que eu já tinha aberto mão no primeiro biênio
(2011/2012) e abri mão neste segundo biênio por um acordo que era o Cristiano
na presidência da Comissão de Assuntos Fundiários. Aí me desculpa, pedi para
ignorar palavra eu não dou conta.
GN - O senhor chegou a conversar com o
governador Agnelo sobre esse assunto?
Wellington - Fui ao governador e disse que só existia uma
forma de eu não votar no Cristiano: se ele (mesmo) retirasse a candidatura.
Como ele não retirou eu mantive meu posicionamento.
GN - A questão das comissões ainda teve outra
discussão. Como o governo não emplacou um nome para a CAF e retirou o PPCUB e a
Luos de pauta. Sugeriu-se uma comissão especial para estes temas. Como o senhor
avalia essa situação?
Wellington - Eu não acredito e espero que isso não
aconteça. Houve um debate nesse sentido, iniciado pela deputada Celina Leão e
da qual o nosso presidente foi totalmente enfático. Disse que não existe essa
possibilidade, que em nenhum momento isso foi colocado pelo governador Agnelo e
seria muito mais uma conversa de bastidores. Se isso acontecer, a Câmara
Legislativa pode fechar as portas e (e os deputados podem) ir embora.
GN - O senhor chegou a ser convidado para ser
corregedor no caso Raad. Por que não aceitou?
Wellington - Tão importante quanto ser honesto é você
provar que é honesto. Então não se pode deixar dúvidas com relação aos
procedimentos. Tem que ser algo bem transparente. Quando fui convidado, disse
para o Raad e o Wasny que isso criaria obviamente na cabeça das pessoas uma
tendência, por que eu sou do mesmo partido do Raad. E se o meu relatório fosse
no sentido de arquivar diriam que eu estaria sendo partidário e tendencioso. O
deputado seria condenado pela opinião pública. De nada adiantaria. E obviamente
as pessoas me cobrariam isso. Eu até gostaria de ser corregedor, mas me sentir
impedido.
GN - Acha que o mandato do Raad deveria ser
cassado?
Wellington - Com tudo que aconteceu é difícil até fazer um
juízo de valor, até por que não trabalhei no caso nem na condição de policial e
nem na corregedoria. É um assunto espinhoso investigar um colega, um
companheiro. Não é algo simples não. Agora, nós temos que agir com base nas
provas e na nossa consciência. Acredito que a Comissão de Ética vai ter maturidade
para agir dentro da investigação, fazendo aquilo que certamente será justo.
Dependendo da resposta vai ao Plenário e aí já é outra confusão, e das grandes.
Da Redação – Guardian Noticias
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