Valério prestou depoimento nessa terça-feira; no ano passado, ele
afirmou a procuradores que depositou dinheiro na conta de empresa do amigo do
ex-presidente para pagar despesas do petista
A Polícia Federal vai pedir a quebra do
sigilo bancário de Freud Godoy, segurança e assessor pessoal do ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva. A medida faz parte do inquérito instaurado para
desvendar o caminho percorrido pelos recursos distribuídos no esquema do
mensalão e é também um desdobramento do depoimento prestado pelo empresário
Marcos Valério Fernandes de Souza à Procuradoria-Geral da República em setembro
do ano passado. Valério afirmou que o mensalão bancou despesas pessoais de
Lula. O ex-presidente afirma que é mentira.
Ontem, Valério prestou novo depoimento à PF
em Brasília. O operador do mensalão deixou a sede da polícia por volta das 16
horas. O inquérito aberto vai rastrear supostos repasses do mensalão para o
ex-presidente. A PF também deve ouvir o auxiliar de Lula nos próximos 10 dias,
em São Paulo. ...
O pedido de quebra de sigilo de Godoy será encaminhado ainda nesta semana à
Justiça Federal de Minas Gerais. No ano passado, Valério disse aos procuradores
ter passado dinheiro para Lula arcar com "gastos pessoais" no início
de 2003, quando o petista já havia assumido o Planalto. Os recursos foram
depositados, segundo Valério, na conta da empresa de segurança Caso, de
propriedade de Godoy, ex-assessor da Presidência e uma espécie de "faz-tudo"
de Lula. O ex-presidente nega ter recebido dinheiro do esquema.
Em 22 de fevereiro, o procurador da República Leonardo Augusto Santos Melo
solicitou à PF que detalhasse o destino dos recursos do mensalão. No ofício
encaminhado à Superintendência da PF em Minas, o procurador transcreveu trechos
do depoimento de Marcos Valério e que foi revelado pelo Estado. Uma das grandes
dificuldades da investigação será driblar a possível ausência de arquivos
bancários anteriores a 2008. Normas do Banco Central indicam a obrigação de
armazenamento pelo período de cinco anos, no mínimo.
Além de Freud, a PF quer ter acesso aos dados bancários de outras 25 pessoas
físicas e jurídicas que também receberam dinheiro das empresas de Valério,
condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a 40 anos de prisão por
envolvimento no mensalão.
Ao todo, cerca de 200 pessoas e empresas foram beneficiárias dos negócios do
operador do esquema. Parte dos dados já estão sendo periciados por uma equipe
da Polícia Federal em Minas.
CPI dos Correios
No depoimento no ano passado, Valério afirmou ter havido um repasse de
aproximadamente R$ 100 mil para a empresa de Godoy. Ao investigar o mensalão, a
CPI dos Correios detectou, em 2005, um pagamento feito pela SMPB, agência de
publicidade de Valério, à empresa de Freud Godoy. O depósito foi feito,
conforme informou a CPI, em 21 de janeiro de 2003, no valor de R$ 98,5 mil.
O operador do mensalão não detalhou, em setembro passado, quais seriam esses
"gastos pessoais" do ex-presidente. O dinheiro teria sido gasto no
primeiro mês de governo quando "ainda não se sabia como usar o cartão
corporativo", disse Valério no depoimento. Na tentativa de embasar a
acusação, Valério entregou cópia do cheque destinado à empresa Caso e emitido
pela SMPB Propaganda.
Dinheiro para campanha
Freud Godoy afirmou que o dinheiro serviu para o pagamento de serviços
prestados durante a campanha eleitoral de 2002 por sua empresa. Esses serviços,
admitiu Godoy à época da CPI, não foram formalizados em contrato e não houve
contabilização das despesas. O "faz-tudo" de Lula afirmou, em
resposta às acusações feitas por Valério, que suas contas foram devassadas
pelos órgãos de controle. /COLABOROU FAUSTO MACEDO
Cronologia
Nome de Freud surgiu em 2006
- 17 de setembro de 2006
"Dossiê dos aloprados"
Freud, o "faz-tudo" de Lula, é
apontado pelo advogado Gedimar Passos como o responsável pela compra de um
dossiê contra políticos tucanos. À Polícia Federal, Passos diz que recebeu de
Freud a missão de pagar R$ 1,75 milhão pela compra do dossiê contra o então
candidato a governador de SP José Serra e seu ex-secretário executivo Barjas
Negri.
- 18 de setembro de 2006
Fora do Planalto
Após ser apontado como o petista que
contratou os intermediários do dossiê, Freud é afastado do Planalto.
- 24 de setembro de 2012
Citado por Valério
Freud é citado em depoimento do operador do
mensalão Marcos Valério. Ele diz à Procuradoria-Geral da República que Lula
usou dinheiro do mensalão para pagar despesas pessoais e que esse dinheiro era
passado para a conta da empresa de Freud, a Caso.
Cheque
Valério envia à procuradoria cópia de cheque no valor de R$ 98,5 mil destinado
à Caso. O cheque foi emitido em 2003 pela SMPB, de Valério.
Por Alana Rizzo
Fonte: Jornal Estado de São Paulo - 24/04/2013
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