Apenas 14% dos municípios brasileiros têm
bombeiros. A maioria das corporações é composta por militares. Algumas cidades
encontraram um outro caminho: o corpo de bombeiros civil, que conta com o
trabalho de voluntários.
Fumaça à vista. A
reação é imediata. O deslocamento até o local do incêndio leva apenas cinco
minutos. Adriano dirige o caminhão-tanque. Ele é um bombeiro voluntário. Assim
como o mecânico João Pedro, que combate as chamas. "Eu decidi a título de
doação para a comunidade. É um dever que eu tenho com a comunidade",
afirma João Pedro Matheus, mecânico e bombeiro voluntário.
Em pouco tempo, o fogo é controlado. O morador recebe atendimento das
socorristas. Sandra e Silvia são irmãs, donas de casa, e voluntárias no Corpo
de Bombeiros de Joinville. “Eu acho que a população precisa muito de alguém que
tenha esse tempo pra ajudar”, afirma Sandra Maria Possamai, dona de casa e
voluntária.
No domingo passado, mostramos um dado preocupante: apenas 14% dos municípios
brasileiros têm bombeiros. ( Confira aqui a
reportagem). E em muitos casos, os quartéis sofrem com a falta
de equipamentos e viaturas sucateadas. A maioria das corporações é composta por
militares. Algumas cidades encontraram um outro caminho: o corpo de bombeiros
civil, que conta com o trabalho de voluntários.
Cento
e vinte anos atrás, quando Joinville era uma pequena colônia de imigrantes
alemães, os moradores se organizaram para combater os incêndios. Assim foi
criado o primeiro corpo de bombeiros civil voluntário do país.
"As atribuições do bombeiro civil são as mesmas do bombeiro militar. Nós
apagamos incêndio, nós atendemos acidentados, nós fazemos vistoria em prédios”,
explica Olavo Gamper, presidente da Associação de bombeiros Voluntários de
Santa Catarina.
De
cada três bombeiros civis de Joinville, dois são voluntários. Recebem
treinamento, uniforme e alimentação. Como dona Milânia, 66 anos, aposentada,
que trabalha doze horas por dia, duas vezes por semana, como socorrista. "Eu
amo o que eu faço. Saio de casa contente quando posso chegar aqui no bombeiro e
fazer algo que ajude ao próximo”, declara Milânia Félix, aposentada e bombeira
voluntária.
Entre os bombeiros contratados e remunerados muitos começaram como voluntários,
caso do comandante da corporação. “Bombeiro civil não é sinônimo de amadorismo.
Cada bombeiro voluntário que ingressa na corporação recebe um treinamento com
os melhores padrões para as atividades que vai desenvolver”, afirma Heitor
Ribeiro Filho, comandante do Corpo de Bombeiros de Joinville.
Quase
metade dos recursos para manter o corpo de bombeiros vem dos moradores de
Joinville. Trinta e cinco mil pessoas, que como Sandra, doam espontaneamente
pequenas quantias na conta de luz."Eu contribuo com o bombeiro porque é um
valor muito pequeno perto do retorno que o bombeiro traz para a
população", afirma Sandra Hort de Souza, empresária.
O
pioneirismo de Joinville inspirou outras 75 cidades do sul e do sudeste a terem
um corpo de bombeiros civil e voluntário.
Nos
Estados Unidos, apenas 9% dos quartéis são compostos por bombeiros contratados.
A maior parte do efetivo conta com voluntários.
“A
proposta é aumentar o número de municípios com bombeiros, independente do tipo,
seja militar, sejam bombeiros civis, voluntários, comunitários, mistos - que
são militares e civis trabalhando juntos”, diz José Carlos Tomina, pesquisador
do IPT.
Nesta semana, o Ministério da Justiça vai discutir com especialistas a criação
de um código nacional para a segurança contra incêndio e estimular a formação
de novas corporações.
"O
governo federal precisa estabelecer uma regra nacional para orientar os seus
próprios órgãos federais, ajudar, algumas regras que não são de bom nível
técnicos, e ajudar esses 4800 prefeitos que não tem equipe técnica e não
tem bombeiros", diz Tomina.
Enquanto isso, Joinville continua formando voluntários e futuros bombeiros.
"Eu tenho certeza que muitos deste jovens vão continuar com a gente por
muito tempo", diz Adriano Bornschein Silva, bombeiro voluntário.
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