Assentada a poeira de mais um pronunciamento
polêmico do ministro Joaquim Barbosa, segunda-feira, importa
ir além da reação dos presidentes da Câmara e do Senado, bem como de
líderes partidários. Eles não aceitaram que o presidente do Supremo Tribunal
Federal tivesse rotulado o Congresso como ineficiente e submisso ao Executivo,
assim como se indignaram com a afirmação de que os partidos, no Brasil, são de
“mentirinha”.
O importante em mais esse episódio envolvendo Joaquim Barbosa é que, apesar de suas negativas peremptórias, a cada dia que passa ele mais se vincula à política nacional. A poucos é dado o dom da premonição, mas vai ficado claro o perfil de um candidato a presidente da República.
A razão é simples: o ministro diz as verdades que o país inteiro gostaria de ouvir. Sem meias palavras, já radiografou o Judiciário em suas verdadeiras cores. Agora,voltou-se para o Legislativo, com respingos sobre o Executivo. Tudo indica que não vai parar, numa trajetória iniciada quando tornou-se relator do processo do mensalão.
Não demora aparecer um partido para convidá-lo a disputar o palácio do Planalto. E vai dar trabalho. Basta verificar que nenhum dos possíveis candidatos em disputa, de Dilma Rousseff a Aécio Neves, Marinha Silva e Eduardo Campos – nenhum teve ou terá coragem de falar o que Joaquim, Barbosa fala.
Guardadas as proporções, sua performance lembra a sucessão de 1960. Juscelino Kubitschek terminava seu mandato envolto em altíssimos índices de popularidade. Era o brasileiro mais admirado naqueles idos. Foi quando apareceu Jânio Quadros, dizendo em praça pública tudo o que a população ansiava, em se tratando de reformar costumes e práticas. Deu um passeio nas urnas. Vale registrar apenas a quadra eleitoral. O que aconteceu depois com Jânio nada tem a ver com Barbosa. Nunca teve antes, também, exceto o fascínio que um despertou no eleitorado e o potencial que o outro agora apresenta. Como não temos bola de cristal, recomenda-se aguardar. Mas que o homem tem tudo para ser lançado e eleito, isso tem.
ENFIM, A VOZ DA RAZÃO
Foi uma festa quando a presidente Dilma Rousseff integrou-se à corrente que pregava aplicar em educação todo o lucro proveniente do petróleo do pré-sal. Não se ouviu uma só voz em sentido contrário, reconhecendo todos que educação significa nosso passaporte para o futuro.
No entanto… No entanto, será o único problema nacional a merecer imediatos e maciços investimentos? Quem, com toda elegância e sem contestar o uso do pré-sal na educação foi o sempre sábio dr. Adib Jatene. Em artigo da Folha de S. Paulo, o ex-ministro da Saúde lembra a importância de novas fontes de recurso para o Brasil deixar de ser doente. Até reconhece que a CPMF, sua criação, foi logo desvirtuada pelo governo. Há que insistir novamente. Por que não reservar uma parcela dos lucros com o petróleo para a saúde pública? O dr. Jatene nem precisou particularizar a sugestão. Está na cara. Enfim, a voz da razão.
MELHOR A BANDEIRA BRANCA
Juscelino era governador de Minas e certa madrugada acordou seu secretário do Interior e Justiça, Geraldo Starling Soares. Assustado, JK informou que tropas da Polícia Militar do Espírito Santo tinham acabado de invadir a cidade de Mantena, na zona do Contestado, entre os dois estados. Queria saber que tropas mineiras poderiam ser mobilizadas para enfrentar os capixabas.
O secretário replicou que iria pessoalmente a Mantena, mas não levaria nem um soldado, apenas uma bandeira branca. Conversando, ele se entenderia com os invasores, que um dia depois do encontro, retiraram-se…
Por Carlos Chagas
Fonte: Tribuna da Imprensa - 23/05/2013
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