A procuradora-geral Eunice Carvalhido conclui
pela responsabilidade do distrital em 24 crimes. Ele é acusado de usar a
condição de parlamentar, em 2008, para favorecer empresas da família.
Uma temporada de 40 a 90 anos de prisão, em regime
fechado, mais a perda do mandato parlamentar. Essa é a pena que o Ministério
Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) espera ver arbitrada pela
Justiça a Benedito Domingos (PP) na denúncia sobre contratação por
administrações regionais de empresas de familiares do deputado distrital para a
ornamentação do Natal de 2008. Depois de dois anos de tramitação, a ação penal
chegou à fase final e deverá ser julgada neste ano. Nas alegações encaminhadas
ontem ao relator do caso, desembargador Humberto Ulhôa, a procuradora-geral de
Justiça do Distrito Federal, Eunice Amorim Carvalhido, conclui pela
responsabilidade de Benedito em vários crimes.
A chefe do Ministério Público do DF pede a condenação em 24 delitos de dispensa
ilegal de licitação, corrupção passiva e formação de quadrilha. Benedito
Domingos teria usado sua influência política, como deputado, administrador
regional de Taguatinga e presidente do PP, para obter a contratação de empresas
de um de seus filhos e de um neto — LSS e S4 Produções — para que fornecessem
enfeites natalinos para várias cidades. Depoimentos de administradores que não
aceitaram a ordem de favorecer os familiares do distrital confirmaram em juízo
o suposto esquema. Há casos, por exemplo, de um gestor que admitiu ter feito o
projeto do empreendimento a ser contratado apenas depois que o serviço já havia
sido realizado, ou seja, confessou uma fraude no processo de licitação. A Lei
8.666/93 exige um detalhamento de todas as despesas antes mesmo da escolha da
empresa a ser selecionada no mercado.
Na manifestação encaminhada ao Conselho Especial do Tribunal de Justiça do DF,
a procuradora-geral do MP defende a necessidade de soma da pena de cada um dos
supostos atos criminosos imputados a Benedito. Se prevalecer essa tese,
Benedito terá de arcar com a responsabilidade por cada contrato firmado pelas
administrações regionais com as empresas dos familiares. Trata-se do chamado
concurso material, modalidade prevista no Código Penal, em que os atos ilícitos
são analisados de forma isolada. Na descrição da pena, Carvalhido e os
promotores Antônio Suxberger e Renato Bianchini, que assinam a peça, descrevem
agravantes na conduta do distrital: “o acusado Benedito Domingos merece ter a
pena-base fixada acima do mínimo legal para cada um dos crimes que praticou”.
O Ministério Público acrescenta: “Cuida-se de deputado distrital, cuja base
política situa-se entre pessoas de mesma fé religiosa, da qual é pastor. É
dizer: o acusado representa parcela significativa da população do Distrito
Federal e valeu-se desta representatividade e do mandato que lhe foi conferido
para a prática dos atos ilícitos versados nos autos, razão pela qual a
censurabilidade de sua conduta é substancialmente mais gravosa”. O pedido de
condenação depois da tramitação do processo não é mera formalidade. No caso da
denúncia contra o ex-deputado Benício Tavares (PMDB), por exemplo, acusado de
exploração sexual de adolescentes numa pescaria na Amazônia, a
procuradoria-geral de Justiça do DF pediu em 2010 a absolvição no fim do
processo.
Ficha Limpa
Se for condenado pelo Conselho Especial do Tribunal de Justiça do DF, Benedito
Domingos ficará inelegível pelo período que durar a pena e mais oito anos,
segundo estabelece a Lei da Ficha Limpa. O julgamento deve ocorrer no segundo
semestre. A fase agora é de prazo de 15 dias para a defesa final do distrital.
Em seguida, o relator, desembargador Humberto Ulhôa, deverá marcar uma data
para análise. Durante todo o processo, Benedito sempre disse que nunca
interferiu na contratação das empresas do filho e de um neto. Também sustenta
que os serviços foram profissionais e realizados de forma eficiente.
Sobre as alegações finais, o distrital afirmou, por meio da assessoria de
imprensa, considerar “natural” que o Ministério Público, autor da denúncia,
peça ao fim do processo a condenação. “Mas o Ministério Público não é a
Justiça. A defesa tem acompanhado o processo e tem a certeza de que as provas
demonstrarão a não procedência da acusação”, afirmou a assessoria do
parlamentar.
Carro de Durval vai a leilão
O Tribunal de Justiça do DF vai levar a leilão no próximo dia 28 um Toyota Land
Cruiser, ano 2008, que pertenceu a Durval Barbosa, o delator da Operação Caixa
de Pandora. O veículo foi tomado pela Justiça para compensar prejuízos aos
cofres públicos provocados por desvios de recursos do esquema liderado pelo
delegado aposentado. O lance mínimo é de R$ 80 mil. O catálogo com fotos e
descrição deste e de outros bens oferecidos no leilão está disponível no link
www.tjdft.jus.br/cidadaos
/leiloes. Entre os catalogados, além da Toyota, constam um motor de barco, um
lote de gemas de esmeralda, quadros de arte, bicicletas e celulares, entre
outros.
Bloqueio de bens
O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) pede também no
processo que o deputado distrital Benedito Domingos (PP) devolva dinheiro pela
contratação considerada irregular das empresas de familiares. Os bens do
parlamentar estão bloqueados e poderão ser usado pela Justiça s a título de
ressarcimento de eventuais prejuízos aos cofres públicos.
Por Ana
Maria Campos
Fonte: Correio Braziliense - 24/05/2013
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