A PMDF
apresentou os novos caveirões, também chamados de Centurion I e II, para
controle de disturbios civis.
As duas
novas viaturas contam com que existe de mais moderno e é resultado de anos de
muito trabalho e planejamento por parte dos integrantes do Batalhão de Choque
da PMDF.
Histórico
Em meados
dos anos oitenta, mais precisamente em 27 de novembro de 1986, o Brasil vivia
períodos de hiperinflação, e como medida de controle dos preços o Ministro da
Fazenda Dilson Funaro decidiu lançar um plano econômico, mais um dentre vários
que fracassaram, chamado Plano Verão II.
Como o
nome já dizia, era mais uma tentativa desesperada de controlar a desvalorização
da moeda brasileira através de congelamento artificial dos preços, o que gerou
desabastecimento, venda de produtos com "ágio" por fora e saques a
supermercados.
Como o plano era totalmente impopular e, aproveitando-se da situação, os partidos de oposição e as centrais sindicais, CUT e CGT, marcaram uma manifestação em Brasília com cinco mil pessoas, a maior da história da capital até então, contra o referido plano.
Nesse mesmo dia estava previsto que o Presidente da República, José Sarney, iria assistir a missa de Ação de Graças na Catedral Metropolitana durante o período da manifestação. Esse foi o erro fatal.
Ao saber
que o presidente estava a pouca distância deles, que haviam se reunido na
Rodoviária, os organizadores instigaram a população que transitava pela local,
juntamente com milhares de membros partidários que estavam no meio deles, a
partir para o quebra-quebra.
Iniciou-se
uma verdadeira guerra civil, onde várias viaturas da polícia militar, civil e
do Exército foram incendiadas, lojas saqueadas e depredações de toda a sorte,
que obrigou a PMDF a reagir de improviso, remanejando todas as suas viaturas de
serviço no dia para o local do confronto, pois o número de policiais da então
Companhia de Choque, embrião do BOPE e do Batalhão de Choque, contava com
poucos policiais e com equipamentos inadequados, o que agravou o conflito.
O Presidente Sarney precisou de escolta da polícia do exército para percorrer os dois mil metros que separavam a Catedral do Palácio do Planalto. O palácio também precisou ser cercado pela P.E. para salvaguardar a vida e a integridade física do presidente e de todos que lá se encontravam.
Após esse incidente terrível a PMDF tomou a decisão de melhorar a estrutura da Companhia de Choque e iniciou o processo de compra de um novo veículo para auxiliar nas operações de distúrbios civis. Surgiu o Centurion.
Comprado
no ano seguinte ao badernaço, como ficou conhecido o confronto de 27 de
novembro, em 1987 a PMDF recebeu um equipamento de última geração, que contava
com o que havia de mais moderno na época para a função a que ele se destinava. Além
de permitir o transporte de um Grupo de policiais militares totalmente
equipados dentro do carro, ele possuía um canhão de água de alta pressão,
blindagem completa, inclusive nos vidros, portinholas para lançamento de
granadas de efeito moral e lacrimogêneas, e tira barricadas. O veículo batizado
de Centurion serviu mais de 27 anos com uma excelente atuação seja em
ocorrências graves, seja durante as centenas de manifestações que atuou na
Esplanada dos Ministérios.
Uma das ocorrências de destaque foi durante a resposta da PMDF a rebelião no CEPAIGO de Goiânia, liderada pelo marginal Leonardo Pareja, que juntamente com dezenas de outros criminosos e com reféns, fugiram do presídio sendo perseguidos pela PM de Goiás.
Um desses
veículos com marginais fugitivos, um tempra fornecido pelo Governo Goiano, se
dirigiu a Brasília, onde foi interceptado pelo Centurion, próximo de sete
curvas, BR-060. O veículo se chocou com o Blindado da PMDF e foi totalmente
destruído, os marginais inciaram uma troca de tiros com os membros do Choque.
Alguns desses disparos e as marcas do carro estão no Centurion até hoje.
Outra situação que marcou a vida do Carro foi a marcha contra o apagão da corrupção que contou com mais de 300 mil pessoas. Durante a manifestação, Punks oriundos do Rio de janeiro se infiltraram o movimento e inciaram um confronto generalizado com a PMDF e com os próprios manifestantes que não aceitavam os ataques dos Punks aos PM's. Graças a atuação do Centurion e do efetivo de mais de cinco mil policiais, a manifestação foi controlada, os Punks presos e os feridos foram recolhidos ao hospital de Base sem gravidade.
Porém, muita coisa mudou de 1987 pra cá. A população do DF triplicou, o crime se organizou e as leis se esfacelaram. Com esse novo cenário, aliado a busca contante do estado da arte no combate ao crime, a PMDF, por meio do seu Batalhão de Choque, iniciou os estudos para atualizar e dobrar os meios de dissuasão em distúrbios civis.
Nasceu o projeto dos novos Centurions.
Um novo
tempo
Com o
novo projeto dos novos veículos de controle de distúrbio civil a PMDF resolveu
enviar os policiais responsáveis pelo projeto para conhecer o que havia de
melhor no mercado no mundo. Os membros visitaram fábricas e conheceram os
veículos nos Estados Unidos, Israel e França, porém, devido as peculiaridades
da atividade no Brasil, e mais especificamente em Brasília, foi decidido
projetar os novos Centurions no Brasil e fabricar o carro com as especificações
customizadas que atenderiam a demanda do Batalhão de Choque.
Foi realizada uma licitação sendo vencedora a Empresa Centigon, com sede nos Estados Unidos, mas com uma fábrica de ponta funcionando em São Paulo.
Para realizar esse projeto de alta complexidade foi escolhido como encarregado o Engenheiro Ricardo Furlan, um dos engenheiros militares mais respeitados do Brasil, responsável pelo projeto do tanque Osório, da antiga ENEGESA.
Durante a
fabricação foram agregados todos os equipamentos disponíveis no estágio
tecnológico atual, como Câmeras, canhão de água operado por controle remoto,
sistemas de ar condicionado independente com o veículo funcionando ou parado,
blindagem anti-fuzil, pá mecânica para retirada de barricadas e possibilidade
de transporte de 21 policiais totalmente equipados.
Em suma, uma obra de arte.
Em suma, uma obra de arte.
Eu tive o privilégio de ver os carros durante a sua fabricação em São Paulo, a pedido do BPChoque, que necessitava de um parecer sobre a parte de câmeras e computação embarcada.
Fiquei
impressionado com a qualidade dos veículos, que vão atender a demanda da Polícia
Mlitar do DF por no mínimo duas décadas, como tive o privilégio de conversar e
trocar impressões com o Engenheiro Furlan, homem de notável capacidade técnica
e que partilhou as suas exeriências no desenvolvimento do tanque Osório para a
ENGESA.
Com essa aquisição, que está sendo objeto de estudo e admiração por várias polícias do Brasil, além de dobrar a capacidade de ação do Batalhão de Choque, os novos carros agregam valor e aumentam significativamente a eficacia e a eficiência das ações anti-tumulto.
Mais uma
vez a Polícia Militar do Distrito Federal mostra que possui profissionais a
altura dos desafios da segurança pública do século XXI, pois para a chegada
desses equipamentos, totalmente desenvolvidos e fabricados no Brasil, a tempo
de estarem disponíveis para uso já na Copa da Confederações, demonstra a
iniciativa, competência para planejar e executar ações tão complexas como
essas, e o principal, dentro do prazo para permitir a sua utilização nos
grandes eventos internacionais que Brasil é sede.
Olavo Mendonça é Capitão da PMDF
e especialista em tecnologia policial.
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