Opinião - Semestre decisivo (e incerto) para 2014

Nessa semana os políticos voltam das férias. O semestre que os espera é decisivo. E incerto. Será de intensa movimentação nos bastidores. As ruas continuarão dando o tom. Agosto será de discussões e análises. O estrago foi feito. É hora, então, de calcular as perdas. Montar um esquema de redução de danos.

Setembro se dará o salve-se quem puder. Será quando acontecerá a grande manifestação de combate a corrupção. O Sete de Setembro é emblemático. Carrega o simbolismo da Independência do País. A sociedade novamente vai as ruas. O desgaste maior é para quem está no poder.

Até o momento as respostas da classe política são tímidas. Equivocadas e atrapalhadas. O povo percebeu isso. O Palácio do Planalto, por exemplo, colocou na mesa medidas eleitoreiras e visando ampliar o seu poder.

O programa Mais Médicos não foi bem recebido. A desconfiança é geral. Não adianta ter mais profissionais de saúde se faltam leitos e até esparadrapos nos hospitais país afora. Ficaria bonito no horário eleitoral. Uma boa maquiagem nos números deixaria o governo bem na fita.

A reforma política com lista fechada facilitaria a ampliação da bancada do PT na Câmara dos Deputados, nas assembleias legislativas e câmaras de vereadores. Uma ideia marota. Na Câmara Federal a intenção seria passar de 20% para 40% o número de parlamentares. Seria a independência e ao mesmo tempo a monopolização do poder.

Setembro é também o mês de negociações e de troca-troca partidário. O calendário eleitoral de 2014 prevê que quem quiser ser candidato terá até 5 de outubro – um ano antes das eleições – para estar filiado a um partido. A mudança de siglas será grande. A tendência é que alguns partidos se fortaleçam e outros irem a inanição.


O PSD e o PEN são duas legendas que tendem a perder parlamentares. O primeiro tem hoje quatro deputados distritais. Eliana Pedrosa e Liliane Roriz querem disputar o Buriti. Podem se contentar com outros cargos majoritários, como a vice ou o Senado. Para os planos seguirem em frente, sai uma ou outra do partido. Ou as duas.

Os outros dois deputados são Celina Leão e Washington Mesquita. Ambos não almejam nada mais do que a reeleição. Os quatro deputados possuem convites de outras legendas. O PSD corre o risco até de sumir do cenário político.

Uma filiação ao PSD e posterior candidatura de José Serra (PSDB) a presidente pode resolver o problema. A sigla ficaria atraente e teria que montar um palanque regional. Do contrário, não existe muita disposição de apoiar Eliana ou Liliane ao GDF.

Se o PSD vai perder, o PSDB tende a ganhar. O partido terá um palanque competitivo nacionalmente, o do senador Aécio Neves. Em Brasília, a legenda só conta com o deputado federal Izalci Lucas. Bom oposicionista, mas ainda sem capilaridade para enfrentar uma disputa ao Palácio do Buriti.

Tem ainda a ex-governador Maria de Lourdes Abadia, que está afastada da política. Não influi, nem contribui. É um nome sempre lembrado. Apenas isso.

Os tucanos tentam atrair Eliana, Liliane e o deputado federal Luiz Pitiman (PMDB). Não todos ao mesmo tempo. Mas qualquer um deles poderia ser o candidato a vir enfrentar o governador Agnelo Queiroz (PT). Washington Mesquita, eleito em 2010 pelo PSDB, pode voltar. Essa é a hora do partido crescer.

Outros partidos que devem perder é o PEN, com três deputados, e o PPL, com um (já teve dois). As legendas não tem nominata para eleger mais de um parlamentar. No PEN, se continuar Professor Israel, Dr. Michel e Luzia de Paula, alguem vai ficar sem mandato.

O PPL perdeu Wellington Luiz para o PMDB. E pode perder Raad Massouh para o Conselho de Ética da Câmara. Raad está enrolado. Seu mandato está por um fio. A Câmara tende respirar um ar de moralidade e, pressionado pelas ruas, cassar o deputado. O incoerente que Raad ainda não foi condenado pela justiça.

Na Câmara Federal, os petistas José Genoíno e João Paulo Cunha estão condenados pela mais alta instância do Judiciário, o Supremo Tribunal Federal, mas a Casa mantém o mandato dos dois mensaleiros. Na CLDF, é um petista, deputado Patrício, que pede a cassação de Raad. Vai entender.

O PT hoje tem cinco distritais. Pode ficar com três. Chico Leite, mais votado em 2010, cogita ir para a Rede Sustentabilidade, de Marina Silva. A cúpula do PT não vê a sua independência e o seu discurso ético com bons olhos. Chico é persona non grata pela cúpula do petismo, não pelos militantes.

Cláudio Abrantes foi eleito pelo PPS. Conseguiu a liberação na justiça e foi para o PT. Não demorou muito e se arrependeu da escolha. Excluído das decisões partidárias, Abrantes tem até que engolir o partido incentivar outras três candidaturas na sua base eleitoral, Planaltina. Não deve ficar na legenda.

Essas serão, possivelmente, as trocas partidárias. Os partidos também estão a caça de políticos sem mandato para fortalecer as nominatas. O certo é que quando chegar o dia 5 de outubro, o cenário comece a ser desenhado. Quem for mesmo candidato terá que botar a cabeça de fora.

Por Ricardo Callado

Fonte: Blog do Callado - 27/07/2013

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