Henrique
Alves defendeu proposta e disse que há acordo em vários pontos. Minirreforma
foi classificada por procuradora de 'golpe na democracia'.
Nathalia Passarinho e Fabiano Costa Do G1, em Brasília
O presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves, afirmou
nesta segunda-feira (15) que deve colocar em votação nesta terça (16) o projeto
da minirreforma eleitoral, que autoriza a concorrer políticos que tiveram as
contas de campanha rejeitadas em eleições passadas, desde que tenham
apresentado as contas dentro do prazo.
Pela proposta, o candidato poderá disputar eleição, “independentemente
da aprovação” da contabilidade. O projeto também acaba com a exigência de os
políticos entregarem recibo a empresas e pessoas físicas que fizeram doações à
campanha.
Atualmente esses comprovantes devem ser submetidos à análise da Justiça
Eleitoral. O texto, elaborado por um grupo de trabalho coordenado pelo deputado
Cândido Vaccarezza (PT-SP), substitui a apresentação dos recibos, como forma de
fiscalização, por uma avaliação da movimentação da conta bancária da campanha.
“A ideia era votar esse procedimento eleitoral amanhã de noite. Vamos
discutir a questão no colégio de líderes e, se for confirmado esse
entendimento, votaremos amanhã. São coisas simples, que vão facilitar o
processo eleitoral e ajudar a fiscalização, mas a casa que vai decidir”,
afirmou o presidente da Câmara.
“Isso aí [o projeto elaborado pelo grupo de
trabalho da Câmara] é um golpe na democracia brasileira. É pior que enfraquecer
a Ficha Limpa. Você passa a manipular a legislação segundo os interesses de
quem está no poder", disse Sandra Cureau,
subprocuradora-geral eleitoral.
Em entrevista ao G1 no mês passado, a
subprocuradora-geral eleitoral, Sandra Cureau, classificou as
modificações propostas no projeto de “golpe na democracia”. Já o deputado
Cândido Vaccarezza afirmou que o texto trará “transparência” ao processo
eleitoral.
Maior autoridade do Ministério Público em temas eleitorais, Sandra
Cureau disse estar convencida de que a proposta negociada pelos deputados
enfraquece os princípios da Ficha Limpa. Na visão da procuradora, se o projeto
de lei for aprovado pelo Congresso, o procurador-geral da República poderia
questionar sua constitucionalidade no Supremo Tribunal Federal.
“Isso aí [o projeto elaborado pelo grupo de trabalho da Câmara] é um
golpe na democracia brasileira. É pior que enfraquecer a Ficha Limpa. Você
passa a manipular a legislação segundo os interesses de quem está no poder.
Acho que esse projeto como um todo é um golpe, em especial essa parte do voto
ir para o partido”, afirmou.
Henrique Alves rebateu críticas à proposta. Indagado se o projeto
levaria a um “afrouxamento” da fiscalização das campanhas eleitorais, ele
afirmou nesta segunda: “Não afrouxamos. A ideia é de aperfeiçoamento. São
procedimentos que visam clarear, tornar mais transparente o procedimento
eleitoral.”
Pontos do projeto
Outro artigo do projeto que poderá ser votado nesta terça transfere aos
partidos, no caso de eleições proporcionais, os votos dos deputados e dos
vereadores eleitos que tenham tido a candidatura impugnada com base na Ficha
Limpa, lei de iniciativa popular que torna inelegível os políticos que forem
condenados por órgãos colegiados. Atualmente, os votos de políticos cassados
são anulados, e as siglas não se beneficiam.
O texto também permite campanha eleitoral a qualquer tempo na internet.
Conforme o projeto, nenhuma manifestação política na rede mundial será
considerada campanha antecipada, a não ser que seja veiculada em espaços pagos.
Quitação eleitoral
O texto defendido por Vaccarezza e criticado pelo Ministério Público
prevê que políticos possam se candidatar mesmo se tiverem a prestação de contas
de campanhas passadas rejeitadas. Pelo texto, bastará apresentar as contas para
que seja concedida a quitação eleitoral.
Ao final de cada eleição, os políticos que participaram da disputa são
obrigados a entregar à Justiça Eleitoral um relatório do que foi gasto e
arrecadado pelo candidato, pelo partido e pelo comitê financeiro. A reprovação
acontece quando são identificadas irregularidades nessa prestação de contas.
Para Sandra Cureau, uma lei que torne irrelevante a aprovação das contas
contraria a Constituição. “Esse dispositivo certamente terá a sua
constitucionalidade questionada pelo Supremo. Isso afronta a probidade
administrativa, a moralidade, viola completamente todo o espírito da Ficha
Limpa”, disse.
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