Policiais foram condenados a 624 anos de prisão pela
morte de 52 presos
São
Paulo – A advogada Ieda Ribeiro de Souza, responsável pela defesa dos
policiais militares condenados a 624 anos de prisão pela morte de 52 detentos
na antiga Casa de Detenção do Carandiru, criticou a decisão dos jurados,
anunciada na madrugada deste sábado (3). Em entrevista após a leitura da
sentença, a advogada disse que a “sociedade perdeu e o mundo do crime ganhou”
com a condenação. “Quando se condenam policiais que trabalharam honestamente,
corretamente e que não tiveram nenhuma participação nesse número de mortes, há
a desvalorização de quem nos protege.”
Os 52 detentos mortos ocupavam o terceiro pavimento do Pavilhão 9 da casa de detenção. A advogada informou que vai recorrer da sentença. Os réus poderão apelar em liberdade. Eles também foram condenados à perda de cargo público, mas isso só ocorrerá, segundo promotores e a advogada, após a sentença ter transitado em julgado, ou seja, até serem esgotados os recursos e as instâncias.
Para
a advogada, o resultado da segunda etapa do julgamento do Massacre do
Carandiru, embora tenha sido uma decisão de sete jurados da sociedade civil,
não reflete a opinião da sociedade como um todo. “Vão à internet e vão ver os
comentários que se tem lá dentro. Aquilo reflete a sociedade.”
A advogada disse que, para os próximos dois julgamentos do Massacre do Carandiru, pretende insistir na tese de que não é possível individualizar a conduta dos policiais, indicando quem matou determinado preso. A mesma tese foi usada na primeira etapa de julgamento, em abril, quando 26 policiais foram condenados por 13 mortes.
Já
o promotor Fernando Pereira Filho disse estar satisfeito com a decisão dos
jurados. “Os jurados, mais uma vez, reconheceram não apenas que esses policiais
praticaram os crimes pelos quais foram condenados, mas reafirmaram a percepção
que tiveram outros tribunais populares acerca da efetiva ocorrência de um
massacre”, disse ele. “A voz da sociedade, dentro do julgamento, é dada dentro
do tribunal de júri”, acrescentou. Segundo ele, a decisão dos jurados
demonstrou que “a sociedade não vai compactuar com o desrespeito à vida e o
desrespeito ao ser humano”.
Para Pereira Filho, decorridos 20 anos do episódio, a violência policial ainda é muito grande. "Não tenho dúvida disso."
O promotor Eduardo Olavo Canto Neto disse ter confiança de que, nos próximos julgamentos referentes ao Carandiru, novas condenações virão. Segundo ele, a condenação dos policiais na segunda etapa de julgamento foi possível principalmente por causa das provas. "Houve muitas provas de que os policiais praticaram um massacre em outubro de 1992. Nós demonstramos claramente, para os jurados, que eles cometeram esse massacre."
Fonte:
Correio Braziliense
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