O
MP-DF (Ministério Público do Distrito Federal) investiga se é falsa a
"lista VIP" que o governo do DF montou para distribuir os mil
ingressos e 18 lugares no camarote exclusivo que comprou com dinheiro público
para a abertura da Copa das Confederações, com a vitória da seleção brasileira
sobre a japonesa por 3 a 0, em 15 de junho no estádio Mané Garrincha, em
Brasília. Na hora de explicar aos órgãos de controle o gasto de R$ 2,8 milhões
com a cortesia, o governo apresentou uma lista com os nomes dos supostos 509
convidados para a partida e não a relação das pessoas que de fato usaram os
ingressos. Convidados ouvidos pelo UOL Esporte, por exemplo, disseram
que não aceitaram o convite.
É
o caso da procuradora-geral do DF, Eunice Carvalhido. "Me ligaram da parte
do governador oferecendo ingressos para o jogo, mas eu não aceitei a
cortesia", diz a procuradora-geral. "Compareci ao evento, mas a
convite da Presidência da República, no camarote da Fifa", afirma. Agora,
o Ministério Público quer saber por que o governo do DF utilizou uma lista
errada na prestação de contas da compra dos ingressos. "Aparentemente eles
passaram a lista inicial de convidados, e não quem foi de fato ao evento. É
preciso esclarecer quem recebeu as entradas de fato", afirma ela. "Já
há um inquérito aberto aqui no MP sobre essa compra de ingressos. Agora, a
veracidade dessa lista e qual a lista correta dos beneficiados com as entradas
serão investigados também".
A
lista milionária de convidados do governador Agnelo Queiroz (PT) inclui
senadores, deputados federais e distritais, funcionários públicos do DF,
padres, pastores, jornalistas, comediantes, atletas e 37 dos 40 desembargadores
do TJ-DF (Tribunal de Justiça do DF). A relação foi enviada ao TC-DF (Tribunal
de Contas do DF) e ao MP-DF (Ministério Público do DF), que exigiu que o
governo do DF devolva o dinheiro ao Tesouro e solicitou a lista de nome por
nome de quem foi beneficiado com as entradas, após o UOL Esporte revelar o caso em fevereiro deste ano.
De
acordo com o governo do DF, cada convidado teve direito a dois
ingressos. Apesar disso, 16 políticos e autoridades que constam na relação
afirmam que, embora tenham recebido a oferta de entradas do governo do DF, recusaram
a cortesia.
Na
Câmara dos Deputados, o convite do governo do Distrito Federal parece ter feito
pouco sucesso. André Vargas (PT-PR), Arlindo Chinaglia (PT-SP), Paulo Teixeira
(PT-SP), José Antonio Reguffe (PDT-DF) e Arthur Lira (PP-AL)
informaram que não aceitaram o convite. O deputado Anthony Garotinho (PR-RJ)
disse que nem estava em Brasília no fim de semana da partida. A deputada Erika
Kokay (PT-DF) afirmou que não aceitou o convite e, naquele dia, foi à delegacia
prestar apoio a pessoas que haviam sido detidas em uma manifestação nos
arredores do Mané Garrincha.
Entre
os deputados que tinham o nome na lista de convidados do governo do Distrito
Federal ouvidos pelo UOL Esporte o único que admitiu ter ido ao
estádio foi José Guimarães (PT-CE). Segundo sua assessoria de imprensa, porém,
ele também não aceitou a cortesia e comprou um ingresso com seu próprio
dinheiro.
Entre
os senadores, Alfredo Nascimento (PR-AM), que chegou a ser ministro dos
Transportes, informou que até soube que seria incluído na lista, mas que o convite
não chegou e que, portanto, não foi ao jogo. Também procurados, os senadores
Cristóvão Buarque (PDT-DF), Valdir Raupp (PMDB-RR) e Ciro Nogueira (PP-PI)
aumentaram a lista de quem recusou o agrado proposto pelo governo do Distrito
Federal.
Dirigentes
partidários também afirmaram que não compareceram ao jogo. Presidente do PT, o
deputado estadual Rui Falcão disse que assistiu à partida em casa, em São
Paulo. Por meio de sua assessoria de imprensa, Falcão fez questão de enfatizar
que não recebeu, do governo do Distrito Federal, nenhum convite impresso para
assistir ao primeiro jogo da Copa das Confederações em Brasília. Carlos Lupi,
presidente do PDT e ex-ministro do Trabalho, também negou ter ido ao jogo a
convite de Agnelo Queiroz.
O
ex-prefeito de São Paulo e presidente do PSD, Gilberto Kassab, é outro que
afirma que não foi ao jogo. O escritório do PSD em São Paulo diz que não
recebeu o convite do governo do Distrito Federal. Segundo nota enviada pela
assessoria de imprensa de Kassab, "como há outras instâncias partidárias,
não podemos afirmar que não tenha chegado em outro local".
Confirmados
A
deputada federal Manuela D`Ávila (PCdoB-RS) confirma que recebeu os ingressos
"sem pedir", mas não foi ao jogo e cedeu as entradas para
funcionários de seu gabinete. O senador Gim Argello (PTB-DF) confirma que
aceitou os convites, mas também diz que não foi ao jogo e "não lembra para
quem deu" os ingressos. O senador Jorge Vianna (PT-AC), outro presente na
"lista VIP" do DF, confirma que recebeu os ingressos e foi ao jogo
"como vice-presidente do Senado".
Integrantes
da bancada governista na Câmara Legislativa do DF também confirmam ter recebido
o convite, e pelo menos cinco aceitaram os ingressos.
O
TJ-DF, por meio de sua assessoria de imprensa ao telefone, afirma que nenhum
dos 37 desembargadores convidados para a partida entre Brasil e Japão tinha
algo a comentar sobre o caso, mas que "quase nenhum" havia aceitado
os ingressos. Também constam na lista de convidados, foram procurados pela
reportagem e não responderam se foram ao jogo ou não os senadores Wellington
Dias (PT-PI) e Eunicio de Oliveira (PMDB-CE), e também os deputados federais
Asdrubal Bentes (PMDB-PA) e Jovair Arantes (PTB-GO). O secretário de
comunicação do PT, Paulo Frateschi, também não respondeu.
Notoriedade e
relevância
O
governo do DF justificou a escolha dos convidados para a abertura da Copa das
Confederações, em documento oficial, por sua "relevância" e
"notoriedade". Observado isso, chamaram representantes do corpo
diplomático, líderes empresariais e trabalhistas, funcionários "de
destaque" da Terracap [empresa estatal do DF], investidores
potenciais, líderes políticos e religiosos, jornalistas, artistas e
desportistas de destaque e servidores do governo do DF "a trabalho".
Questionado
pela reportagem sobre o por quê da lista divulgada não encontrar respaldo na
realidade, se havia erro, qual o motivo dele, se a lista será refeita, se o
governo vai cobrar de volta o valor de quem ganhou os ingressos ou se tinha
qualquer coisa a explicar sobre o assunto, o governo do Distrito Federal não
respondeu. Diz apenas que o senador Cristóvão Buarque e o deputado federal José
Antônio Reguffe (PDT-DF) estavam na lista de convidados mas declinaram.
"Se houver outros fatos serão devidamente apurados", encerra a
resposta do governo.
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