Governo quer usar a polícia pra calar protestos da Copa

Planalto lança manual de repressão a protestos nas ruas padrão Fifa. O texto, elaborado pelo Ministério da Justiça, é visto com cautela por especialistas. Para ex-secretário, planejamento é mais importante que papel.

O Ministério da Justiça divulgará uma portaria regulamentando o uso das tropas de choque durante protestos e manifestações de rua. O documento, elaborado pelo Conselho Nacional de Comandantes Gerais de Policias Militares (CNCG) e pela Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp), do Ministério da Justiça, detalha o uso de armas não letais, a organização de centros de controle e até mesmo equipamentos que devem ser disponibilizados aos policiais. Para o coronel reformado da PM paulista e ex-titular da Senasp José Vicente da Silva, a norma só surtirá efeito se for acompanhada de um planejamento e de um reforço na formação dos agentes.

“A norma é positiva, especialmente por ter sido elaborada por pessoas experientes. Mas ela, por si só, não trará os efeitos desejados, se não vier acompanhada de um planejamento mais minucioso e de uma formação mais aprimorada dos quadros da polícia”, destaca o especialista. Para o presidente do CNCG, o coronel da PM de Mato Grosso do Sul, Carlos Alberto David dos Santos, a edição da portaria é parte de um esforço de aprendizado. “Manifestações como as de junho são um fato novo. Quem disser que sabe exatamente como lidar com elas estará mentindo. Estamos todos aprendendo”, acredita.

Para o ex-superintendente da Polícia Federal em Brasília Daniel Sampaio, a norma pode limitar a eficácia das polícias ao quebrar o elemento-surpresa durante as operações. “A pessoa que chega a comandar uma operação deste tipo já recebeu um grande investimento do Estado em treinamento e tem discernimento para dar ordens. Parte da eficácia depende da autonomia de quem está à frente da situação. As normas não tem de engessar o comando”, avalia.

Planalto e PT agem para evitar onda de violência na Copa e dano eleitoral
Avaliação é de que uma nova série de manifestações causará prejuízo à presidente às vésperas da eleição

Temendo reflexos negativos na eleição de outubro, o Palácio do Planalto e o PT se mobilizam para evitar atos de repressão policial violentos com potencial de gerar uma onda de manifestações durante a Copa do Mundo. No início de fevereiro, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, vai se reunir com secretários de Segurança dos 12 Estados-sede para firmar um protocolo de atuação policial frente as manifestações.

Dilma participou nessa terça-feira, 21, de audiência com Tomas Bach, do COI
Para este sábado estão previstos 36 protestos contra a Copa em todos os Estados do País e no Distrito Federal. Convocadas por meio do Facebook sob o slogan #naovaitercopa, as mobilizações cresceram nas redes sociais. Mais de 20 mil pessoas confirmaram participação no ato de São Paulo marcado para 17h, no vão livre do Masp.

O Planalto dá como certa a ocorrência de protestos durante o torneio. A avaliação de Dilma e seus assessores é de que a ocorrência de manifestações pontuais não compromete a imagem da presidente. Já uma nova onda nacional de protestos pode causar graves danos às vésperas das eleições presidenciais. Por isso a preocupação do governo com a possível repressão violenta. Assessores de Dilma lembram que, no ano passado, os protestos estavam localizados em São Paulo até que a ação policial desproporcional provocou uma onda de atos de solidariedade em todo o País.

Presidente Dilma e Ministro Aldo Rebelo
Desde o início do ano Dilma tem se reunido semanalmente com ministros para avaliar o quadro e cobrar providências. O núcleo duro do grupo de trabalho é formado por Cardozo e pelo ministro do Esporte, Aldo Rebelo. Conforme a pauta, outros ministros são convocados. A ideia inicial era fazer reuniões quinzenais, mas o volume da demanda levou a presidente a intensificar o expediente.

Hoje Dilma retoma a agenda de inauguração de estádios, reformas de aeroportos e obras de infraestrutura nas cidades-sede. A maratona começa em Natal (RN) e termina com a entrega do Itaquerão, em São Paulo, no fim de março.

Também por orientação de Dilma, o ministro Gilberto Carvalho, da Secretaria-Geral da Presidência, tem se reunido com movimentos populares alinhados ao PT e pediu ajuda para monitorar o humor dos grupos que foram para as ruas em 2013.

Ministro da Justiça Eduardo Cardoso - Preocupado
“O ministro queria saber qual é a expectativa, o que o pessoal está esperando”, disse o coordenador nacional da Central de Movimentos Populares (CMP), Eduardo Cardoso, que participou de uma reunião com Carvalho no início de dezembro, em Brasília.

A CMP participa ao lado de dezenas de outros movimentos da Articulação Nacional dos Comitês Populares da Copa (Ancop) e tem acesso a grupos quase inacessíveis ao governo.

Na semana passada Dilma autorizou a Secretaria-Geral da Presidência a contratar dois funcionários para reforçar o diálogo com os descontentes. O governo divide esse setor em dois grupos: o dos que foram diretamente afetados pelas obras e o dos que fazem uma crítica ideológica à realização da Copa no Brasil. Um levantamento com as demandas dos diretamente afetados já foi entregue à presidente.

Segundo a Ancop, cerca de 400 mil pessoas, entre famílias removidas, sem-teto e ambulantes, serão diretamente afetadas pela realização do torneio da Fifa e dos Jogos Olímpicos de 2016, no Rio.

Conforme Juliana Machado, integrante do Comitê Popular da Copa em São Paulo, a Secretaria-Geral convocou uma reunião com movimentos em julho de 2013, ainda no calor dos protestos, na qual foi apresentada uma pauta com seis reivindicações: fim das remoções de famílias, preservação do espaço dos ambulantes, respeito aos moradores de rua, desmilitarização das polícias, respeito às manifestações e revogação da Lei Geral da Copa.

“Apresentamos nossas demandas mas não teve qualquer resultado porque o representante do governo não tinha poder de decisão. Até hoje não tivemos resposta. Os ministérios da Justiça e da Defesa também nos procuraram, mas até agora nada”, disse Juliana.

Página em rede social - #naovaitercopa

#vaitercopa. O PT também tem atuado para evitar um desgaste da presidente às vésperas da eleição. No dia 12 o partido lançou a hashtag #vaitercopa. A iniciativa, no entanto, foi abandonada. A ideia é adotar o slogan #CopadasCopas, lançado pela própria Dilma no Twitter e baseado no discurso da presidente na cerimônia de sorteio dos grupos do torneio, em dezembro.

“Não vamos dialogar com este movimento #naovaitercopa . Não tem sentido”, disse o secretário de Comunicação do PT, José Américo. Segundo ele, o partido vai usar as redes sociais para desmentir boatos contra o governo espalhados na rede e divulgar fatos positivos.

Temendo protestos na Copa, patrocinadores já apelam pra Dilma

O risco de protestos durante a Copa do Mundo de 2014 está deixando os patrocinadores de cabelos em pé, já que isso pode gerar prejuízos às marcas além da imagem associada a um evento desastroso.

Entre setembro e outubro de 2013, houve reuniões do Banco Itaú e da Ambev com a presidente Dilma, onde os representantes das marcas arrochou o governo federal para que intervenham sobre a possibilidade de uma Copa do Desastre.

Segundo a reportagem da ESPN, mensalmente acontece reuniões onde o governo apresenta as medidas que estão sendo tomadas para abafar tais manifestações. Além dos danos à imagem, para o Banco Itaú os prejuízos tem sido maiores, já que em muitos protestos tem havido depredação de unidades bancárias da empresa.

A Ambev por outro lado se preocupa com um espaço planejado justamente para a Copa do Mundo, uma área de convivência para torcedores, no modelo das Fan Fests da Fifa.

Fonte: Correio Braziliense / Estadão / ESPN

Comentários

  1. Como policial, se vir um colega conhecido investindo contra um manifestante pacífico nesses protestos, chamo-o de canalha na cara. Pois tem que ser muito canalha, um policial que é espezinhado por esse governo, que é continuidade dos outros, e ainda assim aceitar ser usado como elemento de opressão pelo seu próprio carrasco! Aliás, é a SUPREMA BURRICE um policial oprimido se sujeitar a um papel desses!

    Por que não TARTARUGAR contra os manifestantes também?

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  2. Ótima sugestão amigo. Ser alguém não tem culpa nenhuma nesta história somos nós, o povo!

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