BA: Após dizer que está 'desesperado', líder da greve é transferido de cela

Preso há dois dias em Brasília, o líder da mais recente greve da Polícia Militar da Bahia, Marco Prisco, foi transferido neste domingo (20) para uma cela individual no complexo penitenciário da Papuda, em Brasília.

A transferência ocorreu após sua defesa divulgar, às 13h deste domingo (20), uma nota em que afirma que Prisco estaria "desesperado" com as condições do cárcere.

O soldado e vereador em Salvador pelo PSDB, segundo a Aspra, a associação de praças baianos que lidera, estava detido no complexo da Papuda em "prisão comum com outros 16 presos de alta periculosidade que respondem a crimes diversos".

Logo após a nota ser enviada aos órgãos de imprensa, o vice-presidente da Aspra, Fábio Brito, disse que Prisco já não corria mais risco.

Soldados do exército fazem patrulhamento próximo à praia de Ondina, em Salvador
Ele havia sido transferido para uma cela individual após força-tarefa da Aspra para comunicar quatro políticos da Bahia sobre as condições da sua prisão: a ex-ministra do STJ (Superior Tribunal de Justiça) Eliana Calmon (PSB); o prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM); o presidente da Câmara Municipal de Salvador, vereador Paulo Câmara (PSDB); e o deputado estadual Tadeu Fernandes (PSB), que também é policial.

"Os políticos entraram em contato com Brasília e conseguiram tirá-lo daquele risco iminente de morte. Foi uma irresponsabilidade colocar Prisco, líder da PM, no mesmo espaço que presos comuns", disse Brito.

Ainda segundo o vice-presidente da associação, antes da transferência de cela, Prisco comunicou sobre os perigos do cárcere a um dos seus advogados, após encontro entre eles na Papuda, ao meio-dia deste domingo.

Havia o temor de Prisco ser reconhecido pelos presos já na próxima terça-feira (22), dia de visita para os detentos.

Advogados da associação ingressaram no sábado (19) com pedido de habeas-corpus para Prisco na Justiça Federal em Brasília. O TRF-1 (Tribunal Regional Federal da 1ª Região) remeteu o caso ao STF (Supremo Tribunal Federal), e a ministra Cármen Lúcia deverá analisar o pedido.

A defesa da Aspra disse ainda que Prisco não está se alimentando na Papuda porque "possui problema crônico de estômago e coração" e seguia prescrição médica na alimentação. "Oferecem aos presos água de torneira e ele teme pela saúde física. Vamos solicitar análise médica", dizia trecho da nota.

INTERMEDIAÇÃO

O deputado Tadeu Fernandes confirmou que falou "com autoridades da secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal" para que fossem tomadas medidas pela preservação da integridade de Marco Prisco.

Procurada pela Folha, Eliana Calmon negou ter intermediado o pedido de transferência de Marco Prisco para uma cela individual.

"Não tive nenhuma participação. Minha atuação na greve encerrou-se na negociação pelo fim dos aquartelamentos", afirmou ex-ministra, que pré-candidata ao Senado pela Bahia.

Na madrugada de sexta-feira (18), dia da prisão de Prisco, Calmon participou de uma reunião com líderes grevistas e com o comando da PM.

A reportagem ainda tenta contato com o prefeito ACM Neto e o vereador Paulo Câmara.

GREVE

A greve da PM baiana se estendeu por cerca de dois dias entre terça (15) e quinta-feira (17). Foi acompanhada por uma explosão da criminalidade em cidades como Salvador e Feira de Santana, e terminou com governo e grevistas cedendo em concessões e reivindicações.

A situação voltou a ficar tensa na sexta-feira (18), após a prisão de Prisco pela Polícia Federal. O governo Jaques Wagner (PT) negou relação com a detenção, pedida pelo Ministério Público Federal, e disse que os termos do acordo estavam mantidos.

A versão não conteve a insatisfação da categoria, e PMs passaram a madrugada de sábado sem ir às ruas em protesto contra a prisão, o que se refletiu em violência acima da média em cidades como Salvador e Feira de Santana. Voltaram às ruas ao longo do dia diante de pressões de oficiais, mas em "operação tartaruga": quase não registrando ocorrências.

A Procuradoria pediu a prisão de Prisco na segunda-feira (14), quando a greve já era iminente. A Justiça Federal emitiu o mandado no dia seguinte, terça (15), data do início da greve. A prisão, contudo, só foi realizada na sexta (18).

O Ministério Público Federal move desde abril de 2013 uma ação penal que resultou na denúncia de Prisco e de outras seis pessoas sob acusação de crimes cometidos durante a greve anterior da PM baiana, que durou 12 dias entre janeiro e fevereiro de 2012.

A Procuradoria reconheceu, contudo, que pediu a atual prisão para "garantir a ordem pública" diante da iminência da greve da semana passada.

Prisco responde na ação de 2013 por formação de quadrilha e por uma série de crimes da Lei de Segurança Nacional, de 1983, como paralisação de serviços públicos essenciais e incitação à "subversão da ordem política ou social". 

Fonte: ANDRÉ UZÊDA e JOÃO PEDRO PITOMBO coluna Cotidiano 

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