No limite da tolerância


Treinamento da PM vai até o limite da tolerância

Em treinamento, policiais são obrigados a ingerir vômito dos colegas. Corporação justifica ato

O Curso de Operações Especiais (COEsp) da Polícia Militar tem o objetivo de preparar os participantes para as mais variadas situações. Mas qual o limite entre a capacitação e o desrespeito aos direitos humanos? Em um dos treinamentos, o PM é obrigado a ingerir o vômito do colega de farda. Uma denúncia feita ao JBr. questiona a necessidade das atividades.

Quem responde é a Comunicação Social da PM. De acordo com a corporação, o objetivo é deixar o policial pronto para lidar com situações complexas e extremas, "como salvamento aquático, onde o policial pode se deparar com o socorro de afogados, sendo que o treinamento serve para quebrar qualquer barreira para salvar uma vida”, informa  a nota enviada ao  JBr..

A PM justifica ainda que “o treinamento é feito de maneira técnica e profissional realizada por especialistas de diversas áreas como psicólogos, médico etc".

Denúncia

Revoltado com o suposto excesso, um policial enviou mais de 20 imagens do curso. O treinamento ocorrido no DF contou com policiais da Colômbia e Argentina. 

A atividade ocorre no refeitório da corporação. Ali, aparecem homens vestidos com camiseta preta e bonés - a maioria com a bandeira do DF. Panelas e garrafas de refrigerante são colocadas na boca dos participantes.

Uma das sequências das fotos mostra um militar de boné vermelho vomitando em uma grande panela. Na cena seguinte, o recipiente é derramado em uma jarra de alumínio que passa de boca em boca. Cada um dos aspirantes ingere um pouco do vômito liberado pelo policial de boné vermelho. 

Muitos não aguentam e vomitam também. O instrutor sorri. Em seguida, força o mesmo policial a tomar mais uma vez o vômito do colega. Um policial chega a colocar as mãos no joelho, como se não  aguentasse  mais aquilo.

Como se não bastasse a tarefa anterior, muitos militares são  forçados a passar o vômito com a boca para o companheiro. Eles sabem que estão sendo fotografados. Mesmo assim, não esboçam reação, em sinal de   obediência.
O curso tem carga horária aproximada de 1.164 horas e já preparou  policiais de outros estados.

Exercício considerado “desumano”

Para a vice-presidente da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-DF), Indira Quaresma, o tratamento dados aos aspirantes é degradante e fere a Constituição Federal. "O artigo 5º estabelece que ninguém será submetido à tortura ou tratamento desumano ou degradante. É o que ocorreu nesse curso. Na minha opinião, sem necessidade", avalia. 

O presidente da Associação dos Praças Policiais e Bombeiros Militares do DF, Manoel Sanção Alves, também criticou o treinamento. "Sou a favor de ministrar matérias humanas, como Direito, para tornar um policial mais qualificado. E não esse treinamento desumano", diz.

O JBr. enviou as imagens à Corregedoria da Polícia Militar, que pediu que a demanda fosse encaminhada à Comunicação. Esta, por sua vez, garante que o conteúdo das imagens será analisado para verificar se há qualquer fato em desacordo aos treinamentos previstos. 

Para obter mais detalhes sobre o 6º COEsp, a reportagem procurou o Batalhão de Operações Especiais, em Taguatinga. Ali, foram vistos outros tipos de exercícios, que demonstraram a necessidade do uso da força. Um grupo de soldados a pé, escoltado por motociclistas, deixou o portão correndo. Alguns  foram obrigados a carregar  os colegas nas costas. Uns foram deitados nos ombros dos aspirantes.   

Fonte: Da redação do Jornal de Brasília
Ary Filgueira
ary.filgueira@jornaldebrasilia.com.br

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