Alô, jornalistas. Alô, parlamentares decentes. Alô
sociedade civil independente. Despertem. Ponham a boca no mundo enquanto é
tempo
"Vejam
o absurdo da medida provisória 657 editada pela presidente Dilma. Sabemos que
ela é centralizadora, mas, nesse caso, excedeu-se: se passa a ser a presidente
a responsável pela nomeação do diretor geral da Polícia Federal, estando,
entretanto, a instituição no ministério da Justiça (por isso, chama-se
Departamento de Polícia Federal), o ministro, formalmente responsável pelos
Departamentos incluídos em seu ministério, deixa de ser a referência superior
hierárquica para o Departamento da Polícia Federal.
O
esvaziamento da autoridade do ministro da Justiça não é um detalhe, um método,
um estilo de gestão, é uma fratura na linha de comando institucional, gerando
uma aberração formal. O outro lado dessa moeda é a exposição excessiva da
presidente da República. Se ela nomeia, será cobrada por cada ato da PF. Se a
presidente quer centralizar e trazer para si esse poder (e essa bomba) --o que
seria um erro, de meu ponto de vista--, teria de ser coerente e retirar a PF do
ministério da Justiça, ligando-a ao gabinete presidencial como um ministério ou
uma secretaria especial. Ela deixaria de ser um Departamento sob a
responsabilidade do ministro da Justiça. Afinal, só tem autoridade plena quem
nomeia e demite. E o ministro deixaria de fazê-lo. Contudo, se a PF sai do MJ,
como fica a SENASP? E o Departamento de Polícia Rodoviária Federal? Dilma fala
em integração entre as polícias, mas usa dois pesos e duas medidas? Se ela vai
nomear o diretor da PF, por que não nomeia o diretor da PRF? Se a SENASP é
responsável pela formulação de uma política nacional de segurança pública
--política que envolve, portanto, a PF e a PRF--, como é que o(a) diretor(a) da
PF vai passar a ser nomeado(a) pela presidente e o(a) secretário(a) nacional de
segurança pública, não? A presidente ouviu falar tanto em ZONA ELEITORAL que
voltou ao Palácio disposta a desordenar, desintegrar e confundir o MJ e a
segurança, já tão incoerente e atrapalhada. Enquanto isso, os agentes da PF
continuam abandonados pelo governo na mesa de negociações de mãos abanando, sem
nenhuma explicação sequer, deixados ao Deus dará. É tudo tão grotesco e
absurdo, que só há uma interpretação possível: a presidente negociou com os
delegados federais seu pacote de demandas, preparando sua transição para a
carreira jurídica, em troca de... em troca de... Não sei. Ganha um litro de
gasolina grátis quem acertar. Alô, jornalistas. Alô, parlamentares decentes.
Alô sociedade civil independente (ainda existimos, afinal de contas).
Despertem. Ponham a boca no mundo enquanto é tempo."
Luiz
Eduardo Soares, especialista em segurança pública
Fonte:
Agência Fenapef - 04/11/2014
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