A passividade da presidente é tão estranha que demanda
explicação. Talvez nem ela saiba ao certo qual o seu mandato
Alguém
que tivesse votado em Dilma Rousseff no segundo turno, viajado em seguida e
voltado ao país no fim de semana passado não entenderia o que aconteceu. Eleita
com 3 milhões de votos de vantagem, ela parece derrotada. Manifestações de rua
pedem sua saída, adversários tentam vinculá-la à corrupção na Petrobras, na
economia se apregoam cenários catastróficos. Como Dilma não reage ao cerco,
perde espaço nas ruas, nas manchetes e no mercado. Também no coração e na mente
dos que nela votaram...
A
passividade de Dilma é tão estranha que demanda explicação. Não pode ser
atribuída apenas a seu temperamento insular ou à falta de iniciativa de seus
assessores. Há algo mais, que talvez tenha a ver objetivamente com o resultado
das eleições.
Dilma
venceu, mas não ficou claro, talvez nem para ela própria, qual é seu mandato.
A
eleição derrotou (por pouco) o projeto de Aécio Neves para a economia,
encarnado pela figura do financista Armínio Fraga. Mas não é evidente com que
projeto Dilma venceu. Seria com "mais do mesmo" -- impedir o ajuste
econômico e lançar o governo contra o mercado, com resultados imprevisíveis?
Seria com o "ajuste gradual" -- tentar recolocar a economia no rumo
sem sacrificar os níveis de emprego e renda? Ou seria, ainda, o "estelionato
eleitoral" -- a adesão às teses do adversário, representada pela escolha
de um nome de mercado para a Fazenda, como Henrique Meirelles?
Em
eleições passadas, não houve tal dúvida. Fernando Collor de Mello era o
"caçador de marajás" que tiraria o país do atraso. Fernando Henrique
Cardoso, o presidente da estabilidade da moeda, com mandato para integrar o
Brasil ao mundo global. Lula, o pai da inclusão social que aceitara, depois da
carta as brasileiros, as ferramentas de mercado. Dilma, na primeira eleição, a
seguidora do período Lula. Todos receberam das urnas uma missão clara e
trataram de executá-la com mais ou menos tirocínio. Agora, pela primeira vez em
anos, especula-se sobre o que Dilma fará no segundo mandato. A eleição não
resolveu a contento esse aspecto do futuro.
O
problema talvez se deva à maneira como Dilma venceu. Ela ganhou com uma
plataforma à esquerda. Acusou Marina Silva e Aécio de curvar-se aos desejos do
mercado e dos banqueiros. Ao falar em mudança de rumos e pessoas, ao prometer
um novo ministro da Fazenda, porém, induziu parte dos eleitores (e do seu
próprio partido) a acreditar que a gestão da economia no segundo mandato
inclinaria alguns graus em direção à austeridade e ao mercado.
Agora,
Dilma colhe os frutos da sua ambiguidade. Parte da aliança que a elegeu quer
que ela dobre a aposta à esquerda. Outra parte apoia as mudanças que o mercado
exige. Ambas as facções estão representadas no governo. Refém das duas - e
pressionada pelo ruidoso descontentamento dos que não votaram nela - Dilma hesita.
Ao fazê-lo, permite que a vida econômica do país entre em compasso de espera,
enquanto a política se organiza contra ela.
Não
há saída simples dessa situação. Dilma terá de fazer agora a escolha que não
fez antes da eleição e renunciar ao apoio e à simpatia dos que ficarem
insatisfeitos com ela. Qualquer escolha será melhor do que a paralisia.
Fonte:
Revista Época - Por EIVAN MARTINS. Foto: Internet
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