Brasília
(DF) – 25-11-14
O
senador Aécio Neves protestou, nesta terça-feira (25/11), no plenário do
Congresso Nacional, contra tentativa da base aliada do governo federal de
votar, em regime de urgência, todos os 38 vetos presidenciais em tramitação na
Casa. A manobra está sendo utilizada para acelerar a votação do projeto de lei
que altera a Lei Orçamentária, livrando a presidente da República das
penalidades pelo não cumprimento das metas do superávit primário. Aécio Neves
disse que os vetos deveriam ser discutidos no tempo adequado, pois se referem a
projetos de interesse da sociedade.
Segue abaixo a
íntegra do pronunciamento:
“Começo
por dizer que o nível de desenvolvimento de uma sociedade não pode ser medido
apenas pelo acúmulo de riqueza que ao longo do tempo essa sociedade adquiriu.
Muitas vezes o nível de desenvolvimento de uma sociedade se dá pela força, pela
independência e pela solidez das suas instituições. Esse senhor presidente
Renan Calheiros, é o Congresso Nacional reunido. Já tive o privilégio, pela
vontade dos parlamentares de uma década atrás, de sentar na cadeira em que hoje
senta Vsa. Excelência. Presidi por inúmeras sessões esta Casa com enorme
orgulho. E quero dizer a Vsa. Excelência, que não há, para a democracia, papel
mais relevante do que aquele que o Poder Legislativo possa desempenhar. Não vou
aqui me ater às questões regimentais que aqui têm sido levantadas de forma
extremamente competentes pelos líderes da oposição nesta Casa.
Sabe,
Vsa. Excelência, da importância dos vetos que aqui hoje serão discutidos. Temas
afeitos ao agronegócio, à realidade dos municípios brasileiros deveriam estar
sendo discutidos com o tempo adequado para que a Casa, conhecendo as razões de
ambas as partes, ou de todas as partes, possa aqui tomar a decisão mais
adequadas. Mas vou à questão central. A responsabilidade maior do parlamento, e
por isso foram criados, é discutir e aprovar o Orçamento e fiscalizar as ações
do governo central. É isso que deveríamos estar fazendo aqui. E infelizmente
Vsa. Excelência permite ao Congresso Nacional protagonizar mais uma tarde
extremamente triste.
Não
se iludam senhores senadores, senhores parlamentares. O Brasil acompanha, e
acompanha atentamente esta sessão de hoje. Está sendo tirado do Congresso
Nacional o poder de fiscalizar, de cobrar do governo federal, de fazer com que
a legislação seja efetivamente cumprida. Tudo isso é um pano de fundo para a
questão central à qual chegaremos daqui a algumas horas, mas que quero nesse
instante antecipar.
O
artigo 4º da Lei Orçamentária permite que haja um remanejamento de até 20% de
cada dotação orçamentária se cumprida a meta fiscal. Se isso não ocorrer, se
houver esse remanejamento sem o adequado cumprimento da meta fiscal, aquele que
a proporcionou, em última instância o presidente ou a presidente da República,
incorre em crime de responsabilidade.
Até
o dia 13 de novembro passado, haviam sido remanejados R$44 bilhões do Orçamento
sem o devido cumprimento da meta fiscal. Todo esse açodamento, que impede que
matérias extremamente relevantes sejam aqui discutidas no tempo adequado, tem
um único objetivo deve ficar absolutamente claro, anistiar a senhora presidente
da Republica do crime de responsabilidade que ela cometeu e livrá-la das
sanções estabelecidas na lei por esta Casa.
Esta
é a questão central. Não acho que estaremos aqui atendendo a um capricho da
presidente da República. São muito mais graves as consequências daquilo que
eventualmente a maioria possa, aqui, estar aprovando. Porque se acertamos que
daqui para frente e aceitarmos que no momento em que não se consegue mudar a
lei basta utilizar a sua maioria para transformar a lei, estaremos dando um
passo para trás naquele que foi um dos mais importantes avanços conquistados
por esta Casa. Estávamos lá, eu e Vsa. Excelência, como líderes partidários
quando aprovamos a Lei de Responsabilidade Fiscal. E ela está sendo jogada
fora.
E
ela está sendo jogada fora. Mas isso é apenas um debate entre oposição e
governo? Longe disso. No momento que a base governista perpetrar esta violência,
permitindo que se modifique a lei para que a presidente seja anistiada os
efeitos serão sentidos não será por este parlamento, serão sentidos pela
população brasileira porque teremos muito provavelmente o rebaixamento da nota
de rating do Brasil, investimentos indo embora, empregos deixando de ser
gerados num país que deixou de ser confiável. Esta senhor presidente é a
questão central. Estamos tratando da vida real das pessoas.
O
parlamento para ser respeitado tem de se fazer respeitar e respeitar-se. E
quero aqui, na condição de presidente nacional do PSDB, anunciar previamente
que se houver esta violência. Se for perpetrada mais esta violência pelo
Congresso Nacional, vamos ao Supremo Tribunal Federal com uma Ação Direta de
Inconstitucionalidade para não permitir (trecho inaudível). Há poucos meses, o
Brasil assistiu aos nossos debates, aos nossos programas eleitorais, cobrávamos
do governo que houvesse equilíbrio das contas, que as receitas que haviam
crescido cerca de 7% do PIB, no último período, tivesse o acompanhamento das
suas despesas, houvesse um controle maior dos gastos públicos.
E
qual a resposta do governo? Sempre e sempre: as contas estão em ordem,
equilibradas, cumpriremos o nosso superávit. Portanto, senhor presidente,
enganaram os brasileiros durante a campanha eleitoral, mas infelizmente, as
conseqüências para os brasileiros, se perpetrada esta violência serão ainda
mais graves do que aquelas que assistimos durante o debate eleitoral. Portanto,
rogo aos senhores parlamentares, senadores e deputados aqui presentes, que
acima das nossas vinculações partidárias, acima das questões circunstanciais
que nos levam a ser oposição e governo, devemos respeitar o nosso mandato. E
respeitar o nosso mandato é fazer com que esta casa funcione amparada no
regimento, sem violências e sem atropelos. Esta é a nossa posição, em defesa da
democracia e em defesa do Congresso Nacional.”
Fonte: http://www.psdb.org.br/em-pronunciamento-aecio-neves-critica-manobra-governo-para-acelerar-votacao-da-proposta-que-altera-lei-orcamentaria/
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