Rollemberg repetiu o discurso de que a situação
encontrada foi péssima: rombo de R$ 4 bi
Medidas
anunciadas pelo governador Rodrigo Rollemberg para cobrir o rombo no caixa do
GDF incluem, além do corte de gastos, aumento de impostos. Pacote vai pesar no
bolso e não foi bem recebido por entidades do setor produtivo.
Boa
parte das medidas de recuperação econômica anunciadas ontem pelo governador
Rodrigo Rollemberg (PSB), batizadas de Pacto por Brasília, pesará no bolso do
cidadão. As notícias não são boas.
Entre
elas, estão o fim da isenção de Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores
(IPVA) para carros zero quilômetro, que pode vigorar a partir deste ano, e o
reajuste da alíquota do mesmo tributo, a partir de 2016. Também há previsão de
atualização dos valores venais dos imóveis, algo que não é feito desde 2008 e
que vai influenciar no total a ser pago no Imposto sobre a Propriedade Predial
e Territorial Urbana (IPTU) a partir do ano que vem (veja detalhes no quadro).
O pacote fiscal, que totaliza 21 ações, pretende aumentar em R$ 400 milhões a
capacidade financeira do GDF ainda este ano — entre economia e aumento de
receita. No ano que vem, seriam mais R$ 800 milhões.
Ainda
que o governador tenha conclamado toda a cidade a participar do Pacto por
Brasília, o anúncio foi recebido com restrições por entidades da sociedade
civil organizada e pelo meio político (leia mais nas páginas 18 e 19). Aliás,
Rollemberg deve enfrentar dificuldades para a aprovação das medidas que
dependem de apreciação da Câmara Legislativa, como as mudanças nos tributos.
“Cada um precisa contribuir. Essa é a maior crise econômica e financeira já
enfrentada pelo Distrito Federal. A situação que encontramos foi muito ruim. O
rombo está próximo de R$ 4 bilhões”, ressaltou.
Austeridade impopular
Para
o professor de finanças públicas da Universidade de Brasília (UnB) José
Matias-Pereira, as medidas terão impacto direto no bolso da população. O
cálculo do GDF de aumentar a arrecadação em R$ 1,2 bilhão em dois anos mostra,
na opinião do especialista, o quão antipáticas são as ações. “Do jeito que
aumentaram impostos, acredito que esse valor pode ser até maior. Ele está
chamando a classe média para pagar as irresponsabilidades de gestões
anteriores. São medidas extremamente duras”, avalia.
Durante
o anúncio, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, em evento que durou mais
de duas horas, Rodrigo Rollemberg admitiu aos membros do Conselho de
Desenvolvimento Econômico e Social do DF que as medidas são impopulares. No
entanto, justificou que foram as alternativas encontradas para tentar controlar
a crise. “Estamos adotando várias ações e, mesmo com tantas dificuldades,
conseguimos manter os serviços públicos obrigatórios em pleno funcionamento”,
esclareceu. Entre os atos já praticados, o socialista citou a redução do número
de secretarias (de 38 para 24) e de administrações regionais (31 para 24), a
demissão de comissionados, a suspensão de incentivos fiscais — Pró-DF, no caso
—, o corte de despesas gerais, o cancelamento do aluguel de imóveis e a redução
nos valores dos contratos públicos e da dívida.
O outro lado
Além
das mudanças no IPVA e no IPTU — que vão atingir quase a totalidade da
população brasiliense —, o chamado Pacto por Brasília também trouxe alterações
que podem favorecer o contribuinte, como a possibilidade de pagamento em um
número maior de parcelas dos dois tributos. O imposto de veículos poderá ser
pago em quatro vezes (hoje são três) e o de imóveis passará para oito parcelas
(atualmente são seis).
Além
disso, ao mexer no Imposto de Transmissão de Bens Imóveis (ITBI) — que passa a
ter uma tabela proporcional de cobrança — e na forma como é calculada a Taxa de
Limpeza Urbana (TLP) — que passa a ser pelo tamanho do imóvel —, o governo
pretende fazer com que os donos de imóveis maiores paguem taxas proporcionais à
dimensão. “Justiça fiscal pressupõe que quem tem mais, pague mais”, resumiu o
secretário-chefe da Casa Civil, Hélio Doyle.
ICMS
O
governo também pretende mexer na alíquota de vários produtos em relação ao
Imposto sobre Operações Relativas à Circulação de Mercadorias e sobre
Prestações de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de
Comunicação (ICMS). As reduções serão para para alimentos, medicamentos
genéricos e etanol.
Em
contrapartida, haverá aumento da alíquota da gasolina, óleo diesel e telefonia.
“Se vai aumentar ou diminuir preços para o consumidor final, não vai depender
do governo. A alíquota do ICMS do combustível em Goiás, hoje, é mais alta do
que em Brasília. Mas, ainda assim, o valor dos combustíveis lá é mais baixo do
que aqui”, argumentou Hélio Doyle.
Escalonamento na
pauta de amanhã
Parcelamento
dos salários foi tema de diversas manifestações de servidores públicos este mês
Ficou
para amanhã, no Tribunal de Contas do Distrito Federal (TCDF), a análise sobre
a proposta do GDF de escalonamento do pagamento dos salários dos servidores. O
documento com as explicações técnicas sobre a crise atual e os motivos para a
proposta de parcelamento foi entregue aos conselheiros no início da noite de
segunda-feira. O caso encontra-se sob a relatoria do conselheiro Manoel de
Andrade, que votou contra a medida na semana passada.
Ontem,
durante a apresentação do Pacto por Brasília, o secretário da Fazenda do DF,
Leonardo Colombini, disse que não concorda em falar em escalonar salários. “Na
verdade, é atrasar mesmo o pagamento”, destacou. Ele foi o responsável por
encaminhar os documentos detalhando a situação financeira do governo,
apresentando números de janeiro, fevereiro e março.
As
explicações mostram os fluxos de caixa do governo ao longo dos três meses,
demonstrando que não existem recursos para o pagamento dos salários dentro das
datas previstas anteriormente. Os servidores recebem no último dia útil do mês
trabalhado, exceto Saúde, Educação e Segurança, que têm os vencimentos quitados
no quinto dia útil. “Não temos condições de fazer, porque nas datas não
existirá dinheiro suficiente”, resumiu Colombini.
As
posições dos conselheiros do TCDF, por enquanto, são incertas sobre o assunto.
Manoel de Andrade é a favor da legalidade e afirma que não existe previsão de
escalonamento salarial. Paulo Tadeu e Anilcéia Machado preferiram esperar as
explicações do GDF. Já o presidente da Corte, Renato Rainha, pensa que todas as
situações devem ser analisadas.
Conforme
o novo calendário, os salários passariam a ser pagos em até quatro parcelas
mensais. Todos os servidores receberiam até o limite de R$ 9 mil no 5º dia útil
e os salários seriam complementados nos dias 15 (R$ 11 mil) e 24 (R$ 16 mil),
com os vencimentos superiores a R$ 16 mil pagos no último dia útil. (Almiro
Marcos)
Remédio amargo na
Câmara
Mesmo
os deputados distritais que votarão pela aprovação de medidas anunciadas pelo
governador Rodrigo Rollemberg não aceitaram bem o aumento de impostos. Oposição
define propostas como "pacotaço do mal"
Por
ARTHUR PAGANINI
Joe Valle (PDT),
mesmo sendo da base da aliada, pediu contrapartidas para estímulo da economia
local
"É preciso, em
primeiro lugar, melhorar a prestação de serviços para, depois, cobrar a mais. A
Câmara não precisa contar comigo para votar aumento" Chico Leite (PT),
deputado distrital
O
anúncio de propostas de austeridade econômica e financeira pegou muitos
deputados distritais de surpresa, ontem, quando o governador Rodrigo Rollemberg
(PSB) propôs, entre outras ações, o aumento de vários impostos no Distrito
Federal. Uma reunião com a base aliada teve de ser convocada na Residência
Oficial de Águas Claras, no período da tarde, para pedir o apoio dos
parlamentares a fim de aprovar as medidas — que ainda vão passar pela Câmara
Legislativa — e explicar o porquê da adoção de ações tão duras para o bolso do
contribuinte, em especial o de classe média. Mesmo aqueles dispostos a votar de
acordo com o governo demonstraram indignação com o pacote. Entretanto, a
bancada do PT anunciou posição contrária a qualquer aprovação de aumento de
imposto.
Segundo
os deputados que participaram da reunião, o teor da conversa não poderia ter
sido mais claro: pelas contas da equipe econômica do DF, a capital está no
buraco financeiro. Em linguagem contábil simples, as contas a pagar são maiores
do que as contas a receber. Durante toda a reunião, Rollemberg e assessores
demonstraram, por meio de gráficos e comparações com outras unidades da
Federação, a necessidade de aumentar a arrecadação. Além do aumento de
impostos, as propostas de austeridade também foram anunciadas para justificar a
antecipação de recursos orçamentários (ARO), operação na qual o governo
antecipa repasses mediante juros. Segundo o GDF, ela deve vir com medidas que
brequem os gastos.
No
time daqueles dispostos a votar pelo aumento de impostos estão a presidente e a
vice-presidente da CLDF, Celina Leão (PDT) e Liliane Roriz (PRTB),
respectivamente. Celina, inclusive, participou do anúncio das medidas ao lado
de Rollemberg. “Este é um momento de todos se dedicarem, e os deputados não vão
fugir da responsabilidade. Assim que os projetos forem enviados pelo governo,
serão discutidos e detalhados”, destacou.
Classe média
Da
base governista, Joe Valle (PDT) cobrou, em contrapartida, medidas de estímulo
à economia a médio e longo prazo. “Lamento que, mais uma vez, a conta seja paga
pela classe média e pelo setor produtivo, mas precisamos de remédios duros e
vamos discuti-los na Câmara. No entanto, acho que o governo, ao anunciar
medidas de austeridade, também deveria se preocupar em apresentar propostas de
incentivo para dar esperança à população e à economia”, pondera.
O
líder do PMDB, Wellington Luiz, reconhece que as medidas são antipáticas, mas
garante que vota a favor dos aumentos. “É difícil explicar para a sociedade,
porque ela nada tem a ver com a situação caótica do governo, mas, desde que
essas ações tragam respostas efetivas e imediatas, elas são necessárias e contam
com meu apoio”, diz. Robério Negreiros (PMDB), de férias no Rio de Janeiro, não
tomou conhecimento das propostas, mas afirmou que é favorável à equiparação de
alíquotas no DF em comparação a outras unidades da Federação. “Equiparar
alíquotas de ICMS ao praticado em outros estados pode ser possível, mas a
sociedade não pode pagar sozinha o rombo do governo. O GDF também não pode
correr o risco de fazer um leilão das dívidas para reduzir custos a qualquer
preço”, afirmou.
Contrários
A
bancada do PT se manifestou contrária às propostas governistas. Na avaliação do
líder da bancada petista, Chico Vigilante, as medidas contrariam as promessas
de campanha de Rollemberg. “Esse é o pacotaço do mal do Rollemberg. Sua equipe
econômica, importada de Minas Gerais, nada entende da realidade do DF. Após
anos de estímulo à economia, eles anunciam uma marcha à ré que vai tirar a
competitividade do DF em relação aos estados vizinhos. É uma agressão falarem
em redução de despesas no GDF quando o Diário Oficial não reflete nenhuma
dessas falácias”, critica.
Para
Chico Leite (PT), o pacote de medidas é nocivo à população. “Sou favorável à
contenção de despesas para o equilíbrio das contas públicas, mas não dá para
botar nas costas da sociedade uma conta sobre a qual ela não tem
responsabilidade. Acredito que é preciso, em primeiro lugar, melhorar a
prestação de serviços para, depois, cobrar a mais. Desse jeito, a Câmara não
precisa contar comigo para votar aumento de imposto”, antecipa.
R$ 1,2 bilhão
Quantia
a ser economizada com as propostas do governo até o fim do ano
Entidades criticam
medidas
Representantes
de setores, como comércio, automotivo e habitacional, afirmam que não foram
ouvidos nas decisões e dizem que mesmo as reduções de alíquotas devem ser
insuficientes para balancear o aumento de impostos
Por
KELLY ALMEIDA e ARTHUR PAGANINI
Falta de pagamento de
benefícios para servidores públicos afetou o comércio brasiliense no fim de
2014
As
propostas anunciadas pelo GDF para economizar e arrecadar tributos foram vistas
com apreensão por muitas entidades representativas do DF. Representantes de
sindicatos e associações acreditam que o assunto precisaria de mais discussão,
uma vez que as medidas apresentadas não serão eficientes para sanar o rombo nos
cofres públicos. Reclamam também por não terem sido informados
previamente.
Presidente
da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Distrito Federal
(Fecomércio-DF), Adelmir Santana teme que as medidas impactem diretamente no
contribuinte. Para ele, o que mais chamou a atenção foi a queda do ICMS para
alimentos e medicamentos. “As reduções foram modestas e simplistas e não devem
ser repassadas para a população. Seria mudança se a queda fosse total”,
explica. Mas, segundo Santana, o empresário que sofrer com algum tipo de
aumento em taxas provavelmente vai repassar para o bolso do contribuinte, caso
do combustível.
A
Fecomércio não fez um balanço do impacto das medidas no comércio do DF, mas,
para Santana, a atual situação da capital tem prejudicado o setor. “Para nós,
ruim é quando os funcionários deixam de receber salários. Isso impacta nas
vendas, e foi sentido no fim do ano. É muito fácil tentar resolver os problemas
com aumento de alíquotas, sendo que o interessante é que as contas sejam bem
geridas”, completou.
O
presidente da Federação das Indústrias de Brasília (Fibra), Jamal Jorge Bittar,
concorda que as medidas são amargas, mas defende que elas devem ocorrer. “Nós
nos preocupamos mais com o silêncio sobre o equacionamento das dívidas reconhecidas
com os fornecedores do que com o anúncio do pacote de austeridade. Além disso,
é temerário o GDF dizer que vai reduzir em 25% os contratos, pois, além dos
aspectos legais, um contrato reduzido nessa margem indica que possa ter havido
sobrepreço na contratação”, avalia.
A
proposta de acabar com a isenção do Imposto Sobre a Propriedade de Veículos
Automotores (IPVA) para carros zero-quilômetro não foi bem aceita pelos
representantes do ramo automotivo. “Conquistamos a isenção depois de mostrar
que o governo perdia milhões com as vendas de carros em outros estados com
isenção, como Goiás e Palmas”, explica Alessandro Soldi, vice-presidente do
Sindicato dos Concessionários e Distribuidores de Veículos Automotores
(Sincodiv-DF). Segundo ele, caso a medida seja aprovada pela Câmara
Legislativa, as vendas de carros importados devem cair 15% e de populares, 8%.
“O governo vai deixar de arrecadar o ICMS e também o IPVA — que vai para outra
unidade da Federação, mesmo com o carro rodando aqui.” Alessandro Soldi disse
que o sindicato pretende marcar uma reunião com o governador.
Necessidade
Carlos
Hiran, presidente do Sindicato da Habitação do DF, também não se conforma com
os aumentos no setor. “Dizer que os valores estão defasados é uma falácia, pois
eles foram atualizados pela última vez em 2008, no auge do mercado imobiliário.
Não dá para engolir esse aumento indevido”, critica. Representante do Sindicato
do Comércio Varejista (Sindivarejista), Edson de Castro apontou que a época é
terrível para as medidas. “O comércio no DF enfrenta grandes dificuldades.
Vemos como boas intenções as mudanças propostas para diminuir custos da
máquina, mas os comerciantes certamente sentirão impacto imediatamente”, diz.
Fonte:
Correio Braziliense, por Almiro Marcos e Matheus Teixeira
Comentários
Postar um comentário
1 – Para comentar no Blog Politica&Policiadf você poderá informar, além do seu nome completo, um apelido que poderá usar para escrever comentários.
2 – Serão eliminados do Blog Politica&Policiadf os comentários que:
a - Configurem qualquer tipo de crime de acordo com as leis do país;
b - Contenham insultos, agressões, ofensas e baixarias;
c - Reúnam informações (e-mail, endereço, telefone e outras) de natureza nitidamente pessoais do próprio ou de terceiros;
d - Contenham qualquer tipo de material publicitário ou de merchandising, pessoal ou em benefício de terceiros.
e – Configurem qualquer tipo de cyberbulling.
3 – A publicação de comentários será permanentemente bloqueada aos usuários que:
a - Insistirem no envio de comentários com insultos, agressões, ofensas e baixarias;
Avisos:
1 – No Blog Politica&Policiadf , respeitadas as regras, é livre o debate dos assuntos aqui postados. Pede-se, apenas, que o espaço dos comentários não sirva para bate-papo sobre assuntos de caráter pessoal ou estranhos ao blog;
2 – Ao postarem suas mensagens, os comentaristas autorizam o titular do blog a reproduzi-los em qualquer outro meio de comunicação, dando os créditos devidos ao autor;
3 – A tentativa de clonar nomes e apelidos de outros usuários para emitir opiniões em nome de terceiros configura crime de falsidade ideológica.